Fintech divulgou o balanço do primeiro trimestre deste ano na segunda e, inicialmente, os números empolgaram o mercado; porém, as ações mudaram de tendência.
Por Matheus Piovesana
Cerca de seis meses após debutar na Bolsa como a instituição financeira mais valiosa da América Latina, o Nubank continua perdendo posições na fila e já vale menos que o Banco do Brasil. Em reais, a fintech era avaliada em R$ 87,8 bilhões nesta quarta-feira, 18, enquanto o banco público, historicamente negociado a múltiplos mais baixos que os dos pares do setor, vale R$ 102,9 bilhões.
Com ampla volatilidade, o Nubank caiu 6,37% nesta quarta-feira, em um dia de baixa nas Bolsas de Nova York diante da renovação dos temores inflacionários mundo afora. Mesmo ontem, dia positivo em Wall Street, a ação da fintech, negociada na Nyse, caiu mais de 6%. Neste mês, o Nubank cai 36,4%, baixa que o deixou atrás dos quatro maiores bancos listados em valor de mercado.
A fintech divulgou o balanço do primeiro trimestre deste ano na segunda, e inicialmente, os números empolgaram o mercado. Depois, porém, as ações mudaram de tendência. De janeiro a março, a resposta do Nubank à deterioração do cenário macroeconômico foi manter o ritmo acelerado de crescimento, na contramão de pares como o Inter.
A recepção não foi unânime. Bancos como o Goldman Sachs consideraram o balanço forte, e focaram na mensagem de que há um grande potencial de crescimento. “Dado que o Nubank ainda tem uma pequena participação no crédito, com 7% do mercado de cartões de crédito e menos de 4% dos empréstimos pessoais, pode escolher seus melhores clientes ao aumentar o crédito“, disse o Goldman.
Outro grupo, porém, manifestou preocupação quanto à qualidade. “A inadimplência aumentou 70 pontos-base para mais de 4,2%, ligeiramente acima das expectativas. Está abaixo da média de mercado para este tipo de carteira de crédito, mas ainda é alto, considerado o ritmo de crescimento“, afirmou o Itaú BBA.
Danielle Lopes, sócia e analista da Nord Research, considera que o balanço do Nubank foi negativo, mesmo com a forte alta das receitas. “A empresa está rodando com prejuízo, tentou um ajuste com a remuneração da diretoria, que já foi informada ao mercado, para ficar com a foto mais bonita“, diz ela.
Em nota enviada ao Estadão/Broadcast, o Nubank afirmou que o primeiro trimestre deste ano foi o mais forte de sua história, e que os resultados do período, informados na segunda-feira, superaram as estimativas de analistas.
Resultado
De janeiro a março, o Nubank teve prejuízo líquido de US$ 45,1 milhões, 17% menor que o registrado no mesmo período de 2021. Incluídos os ajustes, o prejuízo virou lucro líquido de US$ 10,1 milhões. A diferença se dá principalmente pelos gastos com plano de remuneração dos administradores da fintech.
“O lucro (prejuízo) líquido ajustado é apresentado porque a administração acredita que essa medida financeira não IFRS pode fornecer informações úteis aos investidores, a analistas de valores mobiliários e ao público em sua análise do desempenho operacional e financeiro da Companhia“, afirma o Nubank em seu release de resultados.
A fintech ressalta, no texto, que os valores de ações concedidas a executivos, um dos ajustes, não têm efeito caixa, e que não são medidas-chave do desempenho operacional. Procurada nesta quarta-feira, a companhia não se manifestou.
Um gestor que tem acompanhado o papel com maior distanciamento afirma que os preços a que o Nubank chegou ao mercado exigiam resultados muito fortes para se manterem. “Desde o começo o mercado achava difícil entregar o que estava no preço. Agora, com os juros altos, o ciclo de crédito é bem ruim“, diz.
Fonte: Conteúdo Estadão