Resultado positivo reflete a recuperação da economia no ano passado; para 2022, a alta de juros tende a elevar os custos dos bancos para cobrir a inadimplência.
Por Matheus Piovesana e Altamiro Silva Junior
Os três maiores bancos privados brasileiros lucraram R$ 69,4 bilhões em 2021, um aumento de 30% em relação a 2020. Com os resultados, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander Brasil viraram a página de um ano conturbado para o setor, ainda marcado pelos efeitos da pandemia, em que as provisões contra a inadimplência reduziram fortemente os lucros. O retrato do ano, porém, é diferente dos resultados trimestrais.
Exceto pelo Itaú, a maior parte da recuperação se deu nos dois primeiros trimestres do ano, com a retomada da economia brasileira. No segundo semestre, a atividade dos clientes dos bancos deu um salto com a vacinação contra a covid-19, mas a inflação começou a pesar e o Banco Central começou a elevar rapidamente os juros, o que fez a inadimplência subir e junto com ela, o custo de crédito. No mercado de capitais, as ofertas de ações pararam, fazendo as receitas com assessoria a negócios dos bancos caírem dois dígitos.
No quarto trimestre, o lucro do Itaú destoou dos rivais, e subiu 33% sobre o mesmo período de 2020. No Bradesco, houve desaceleração de 2,8%, e no Santander, de 2%.
Os três bancos expandiram seus gastos com provisões contra a inadimplência entre o terceiro e o quarto trimestres. O movimento tem sido atribuído pelos executivos do setor ao crescimento das carteiras de crédito, que traz consigo a necessidade de reforçar o colchão contra perdas.
“O custo de crédito vai crescer nominalmente porque a carteira vai crescer nominalmente“, disse o presidente do Itaú, Milton Maluhy, em coletiva de imprensa.
A estimativa dada pelo banco para o indicador aponta para um crescimento de até 43% deste custo, ante alta de até 12% da carteira de crédito – abaixo dos 18% da carteira total este ano. “O cenário macro é diferente em 2022 daquele que a gente observou em 2021“, disse o executivo, falando que o banco vai ser mais cauteloso, com tendência de inadimplência em alta.
Atenção
A inadimplência, porém, não deve dar um salto. “Esperamos uma deterioração da qualidade (de crédito) de forma gradual“, disse o diretor financeiro do Santander, Angel Santodomingo, durante a divulgação dos resultados do banco. O presidente do conselho, Sergio Rial, que deixou a presidência executiva na virada do ano, destacou que em 2022, a inadimplência deve ser mais próxima à de 2019, mas ainda sob controle. “Não é nada que nos preocupe, mas estamos prestando atenção”, afirmou.
O Bradesco, que fechou o ano com gastos de R$ 15 bilhões com provisões, espera gastar de R$ 15 bilhões a R$ 19 bilhões neste ano. É menos que em 2020, quando o banco separou R$ 25,7 bilhões contra a inadimplência, especialmente porque a instituição pretende deixar que as reservas que já possui sejam em parte consumidas. “Acho que (a cobertura) voltaria a níveis históricos, mas acho que neste ano a gente ainda fecha acima“, disse o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Jr.
Os bancos chegam ao ano com os amortecedores ainda reforçados contra essa esperada alta da inadimplência. Em dezembro, o Santander tinha R$ 2,20 para cobrir o rombo de cada R$ 1 em atraso. No Bradesco, o índice era ainda maior, e estava em R$ 2,61 para cada R$ 1. O Itaú tinha separados R$ 2,41. Um ano antes, porém, essa proteção era mais robusta: no Santander, estava em R$ 2,97; no Bradesco, em R$ 4,02; e no Itaú, chegava a R$ 3,20.
Fonte: Estadão