O Banco Central avalia que os grandes bancos estão incomodados com a nova regra da portabilidade de salários e entende que a
reação das instituições é um sinal de que a medida, que alavancou os pedidos de transferência de depósitos, já está sendo relevante para impulsionar a
competição no setor. “A quantidade de gente de banco que eu vejo reclamando da portabilidade de salário é enorme”, disse Ilan em entrevista recente ao Valor.
Segundo Ilan, as queixas dos bancos não chegam de forma direta em relação à portabilidade, mas por meio da manifestação de preocupações com fraudes
potenciais e com riscos à segurança. “A reclamação é sempre onde a gente tem mais sensibilidade: [Dizem] ‘Vai aumentar a fragilidade do sistema; vai ter
fraude; como é que eu sei que estou mandando [dinheiro] para o lugar certo’ “.
A reação do BC, afirmou Ilan, foi atender todos os pedidos dos bancos que diziam respeito a segurança, mas não ceder na questão da portabilidade.
Procurada, a Febraban disse que não comentaria. A portabilidade, que já era permitida mas não funcionava bem na prática, começou a ganhar força a partir
de julho, com a autorização para que o pedido de transferência automática de depósito em conta salário seja feito diretamente no banco para o qual o
assalariado quer migrar seu pagamento. As solicitações são registradas em plataforma mantida pela Câmara Interbancária de Pagamento (CIP). O modelo
foi inspirado nas regras que regem a portabilidade na telefonia.
A norma do Banco Central também permitiu, pela primeira vez, que a transferência dos salários seja feita para contas de pagamento, espécie de conta corrente simplificada que pode ser totalmente digital e é oferecida por fintechs (empresas de tecnologia financeira) e também por bancos tradicionais. objetivo foi alavancar a concorrência e estimular uma redução das taxas cobradas pelos bancos. Desde que o Banco Central alterou a regra, foram apresentados 1,112 milhão de pedidos de transferência de recursos de conta-salários para outras instituições pela nova sistemática, dos quais 615,7 mil foram aceitos. Do total de solicitações, 5,49% (61.082) visavam a transferência para contas de pagamento. Ilan afirmou que, enquanto a transferência do salário dependia de o cliente procurar o banco em que tinha conta-salário para solicitar a transferência, a portabilidade esbarrava na resistência dos próprios correntistas em fazer o pedido. “Muita gente se sente compelida a ficar no seu banco; fica com preguiça de mudar”, diz o presidente
do BC.
Fonte: valor.com.br