A retração geral foi puxada pelo recuo de 59% no número de greves na esfera pública, ante diminuição de 24% na esfera privada
A pandemia de covid-19 derrubou o número de greves realizadas em 2020, de acordo com balanço do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), divulgado hoje. Foram 649 paralisações, queda de 42% em relação às 1.118 registradas em 2019 e o menor número desde 2011 (554). Pouco mais de dois terços (64%) delas foram organizadas por trabalhadores da esfera privada.
A retração geral foi puxada pelo recuo de 59% no número de greves na esfera pública, ante diminuição de 24% na esfera privada.
O número de paralisações teve uma queda abrupta a partir de abril, quando a primeira onda pandemia começou a acelerar no país e voltou a crescer a partir de setembro, mas sem atingir a média de 70 a 90 paralisações mensais do primeiro trimestre do ano, quando ocorrem greves especialmente na área de educação.
A retomada coincidiu com datas-bases importantes na indústria, que naquele momento avançava na recuperação da produção. No fim do ano, na esfera privada, as greves com pauta econômica propositiva, visando ao pagamento de reajustes e PLR, começaram a reaparecer, diz a entidade.
“De janeiro a fevereiro, o número de greves do funcionalismo público dobrou, de 29 a 59, devido principalmente à reivindicação pela aplicação do reajuste de 12,84% no Piso Nacional do Magistério e ao fato de que, em ano de eleições municipais, por lei, mobilizações do funcionalismo precisam se concentrar nos primeiros meses do ano”, informa o Dieese.
A partir de abril, as paralisações se concentraram entre as categorias do transporte público, principalmente em ações contra os atrasos de salários, demissões e redução de remuneração; e por medidas de segurança sanitária, como fornecimento de álcool em gel, luvas e máscaras.
De acordo com o Sistema de Acompanhamento de Greves (SAG), do Dieese, de uma forma geral, enquanto no período pré-pandemia as reivindicações por reajuste salarial e do piso das categorias eram a maioria, a partir de abril, elas praticamente desaparecem e o atraso de salários toma a dianteira, chegando em dezembro a mais de 70% das demandas.
As medidas adotadas para conter a pandemia, como restrições ao funcionamento das empresas, escolas, e o próprio efeito econômico negativo da pandemia prejudicaram os movimentos de trabalhadores. “Existem, em condições como essas, pouquíssimas chances de uma campanha sindical bem-sucedida”, diz o Dieese em seu relatório.
Junto com as reivindicações por regularização de salários surgiram mobilizações mais diretamente ligadas à pandemia, como paralisações dos trabalhadores dos Correios em centros de distribuição considerados insalubres e do transporte coletivo urbano, por causa da falta de máscaras, álcool em gel e desinfecção dos veículos. A partir de outubro, as pautas ligadas à pandemia praticamente desapareceram, diz o Dieese.
As maiores paralisações do ano foram a greve de 20 dias dos trabalhadores da Petrobras, em fevereiro, contra o fechamento da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen), o chamado “breque dos Apps”, em julho, movimento nacional de paralisação dos trabalhadores dos serviços de entrega por aplicativos, com reivindicações como o reajuste nos valores pagos por serviço, o apoio das empresas em casos de acidentes e o fornecimento EPIs.
Em 21 de julho, foram os trabalhadores da Renault, em São José dos Pinhais, no Paraná, que paralisaram suas atividades em repúdio ao anúncio de 747 demissões feito pela empresa. Depois de 22 dias de greve, as demissões foram canceladas e uma paralisação de 35 dias nos Correios, iniciada em setembro, que reivindicavam o cumprimento de seu acordo coletivo de trabalho.
Fonte: Conteúdo publicado no Valor PRO, serviço de tempo real do Valor