Índice da Condição do Trabalho do Dieese aumentou entre 2021 e 2022, mas permanece em patamar considerado baixo pelos especialistas. Queda da desocupação tem sido acompanhada por precarização do trabalho, avalia Dieese.
Por Gabriel Rodrigues
A pandemia foi um momento de volatilidade do mercado de trabalho, com mudanças bruscas na série histórica dos indicadores de emprego e renda. Agora, passados os momentos mais críticos desde o começo da crise sanitária, o mercado brasileiro retorna à estabilidade, mas em um patamar ainda negativo para o trabalhador, segundo novo boletim do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
A instituição mensura, desde 2012, o Índice da Condição do Trabalho (ICT-Dieese). A taxa, que vai de zero a um, reúne os principais indicadores do mercado e, entre o terceiro trimestre de 2021 e o mesmo período de 2022, subiu de 0,36 para 0,46. Assim, ela retornou ao patamar de anterior à pandemia, considerado baixo pelos pesquisadores, e sintomático da deterioração do mercado de trabalho.
“O índice tem patinado desde 2015. Ele teve um momento de melhora muito pontual na pandemia e, hoje, temos dados mais consolidados. Ele retornou aos patamares anteriores, que são baixos. Há a queda da desocupação, da taxa de desemprego, mas isso tem sido afetado pela geração de trabalhos informais, de baixa qualidade e de baixo rendimento. Isso puxa o indicador para baixo, porque são trabalhos mais precários e com pouca contribuição para a Previdência”, explica o economista e pesquisador do Dieese Cesar Andaku.
O indicador que mede a desocupação saltou de 0,39 para 0,64 entre 2021 e 2022, e o de rendimento subiu de 0,39 para 0,47. Por outro lado, a taxa de inserção ocupacional, que mede a proteção trabalhista e previdenciária e a rotatividade no trabalho, caiu de 0,31 para 0,27. Em resumo, quando comparado à série histórica, hoje o mercado é mais precário para o trabalhador do que há dez anos, avaliam os pesquisadores do Dieese. “Quando olhamos para trás, vemos que já houve períodos de menos desigualdade e de proporcionalmente mais carteira assinada e proteção previdenciária. Nesse histórico, sim, hoje a situação é pior”, pontua Andaku.
Tendo em vista esse histórico, o Dieese divide a última década em três grandes períodos. De 2012 até 2014, por mais que as taxas fossem menores do que as da década anterior, renda e mercado de trabalho mantiveram-se estáveis, em níveis maiores que os atuais. De 2015 a 2019, a recessão seguida por estagnação pioraram a qualidade do emprego, o que não foi resolvido pela Reforma Trabalhista, de acordo com a análise do Dieese. Por fim, o período pandêmico começou no segundo trimestre de 2020. Com a retomada da economia, após o período mais rígido de isolamento social, a desocupação baixou, porém a qualidade dos empregos ainda não foi recuperada.
O economista Cesar Andaku avalia que é possível observar melhorias no curto prazo, porém uma melhora consolidada depende de ações ao longo dos anos. “O movimento é de mais longo prazo. Com um período de alguns anos de crescimento econômico mais consistente, melhora da qualidade do rendimento e geração de mais empregos, começaremos a mudar os indicadores”, conclui.
Fonte: O Tempo