Ganhos de Itaú, Bradesco e Santander subiram 37% no 3º trimestre na comparação com o 2º trimestre deste ano; aumento no colchão de liquidez para evitar calotes segurou os lucros neste ano (Por Fernanda Guimarães e Cynthia Decloedt, o Estadão)
Apontando para uma recuperação da economia, os três grandes privados brasileiros, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander Brasil, tiveram um lucro líquido consolidado de R$ 13,962 bilhões no terceiro trimestre do ano, aumento de 37% em relação ao segundo trimestre, o período de pior momento da crise que eclodiu com a pandemia do covid-19, obrigando os bancos a constituírem um enorme colchão de liquidez para se proteger de eventuais calotes. O impacto é, no entanto, ainda visível quando se compara ao mesmo período do ano anterior, com os três bancos mostrando uma queda de 20% do lucro, ainda por pressão das maiores provisões.
O Santander Brasil, que abriu a temporada de divulgação de resultados dos bancos, se mostrou o mais otimista, com os níveis de provisão quase voltando a um nível considerado próximo à normalidade. O presidente do Santander Brasil, Sergio Rial, disse, em teleconferência para comentar os resultados, que o banco espanhol não deve realizar nenhum provisionamento adicional para 2020, além dos R$ 3,2 bilhões do segundo trimestre, considerando o comportamento das taxas de inadimplência até o momento e os níveis de cobertura do banco em relação à carteira de crédito. “Não vejo deterioração da inadimplência e das provisões em 2021 com o PIB crescendo”, disse na ocasião.
Com bilhões de reais renegociados pelos bancos na pandemia, como forma de mitigar os efeitos da crise, que afetou as receitas das famílias e empresas, ainda é difícil se saber se o efeito da crise ficou de fato para trás. A inadimplência mais de curto prazo dos bancos, que pega os atrasos nos pagamentos que não passaram de 90 dias, começaram, ainda que timidamente a subir. Agora, a dúvida é como será a retomada da economia e se os devedores que postergaram os pagamentos terão capacidade de voltar a pagar em dia.
O presidente do Bradesco, Octavio Lazari Junior, disse que o nível de provisões do banco, que foi reforçado no terceiro trimestre em mais R$ 2,6 bilhões, decisão não seguida por seus pares, está em adequado para enfrentar o período de mais inadimplência esperado para o ano que vem e admitiu que o pico virá em 2021. “Quem não provisionou terá que provisionar”, disse. Citou que muitos daqueles que utilizaram a possibilidade de postergar pagamentos em meio à crise – foram R$ 73 bilhões – já honraram os compromissos – cerca de R$ 54 bilhões. Para o restante é esperado o mesmo movimento.
O Itaú também apontou menor necessidade de provisionamentos, dado um cenário melhor neste momento. O presidente do maior banco privado do Brasil, Candido Bracher, disse que a melhora de resultados neste trimestre reflete uma sensível recuperação da atividade econômica, “ao mesmo tempo em que ainda contempla a necessidade de provisionamento para fazer frente à possibilidade de maior inadimplência no futuro”.
Mas o que se pode perceber nas entrelinhas é que as dúvidas persistem sobre como os efeitos da pandemia incidirão na economia daqui para à frente e que as preocupações existem também quando o assunto é a dívida do País – o que acaba repercutindo no desempenho da atividade econômica em 2021.
O otimismo do presidente do Bradesco está calcado em uma expansão econômica de 3,5% no ano que vem, em linha com os economistas. No entanto, o número preciso ainda ser chancelado pelo Planalto e sua capacidade de enfrentar o desafio fiscal, o qual pode impactar negativamente na confiança dos agentes econômicos, conforme ressaltou o presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher, no balanço desta noite.
Além disso, embora o Brasil esteja ensaiando um recomeço, promovendo a reabertura da economia, na Europa as portas voltam a se fechar e o impacto disso por aqui é, de fato, ainda uma incógnita.
Fonte: Estadão