Depois de divulgar os resultados de seu programa de treinees em 2019, o Itaú recebeu duras críticas da sociedade civil, inclusive dos Sindicatos. Isso porque, entre os aprovados, nenhum era negro. O resultado do programa deste ano, entretanto, mostra que as cobranças surtiram efeito: 50% dos aprovados são pretos ou pardos.
O dirigente sindical e integrante do coletivo antirracismo do Sindicato, Júlio César, ressalta que a entidade sempre questionou a necessidade da inclusão de trabalhadores com pele preta, porque devido à miscigenação da sociedade brasileira, muitos pardos são vistos socialmente como brancos, não passando pelos mesmos constrangimentos discriminatórios desenvolvidos pela cultura do colorismo.
Ele lembra que a presidenta do Sindicato dos Bancários, Ivone Silva, e a secretária-geral, Neiva Ribeiro, reuniram-se em setembro de 2019 com a então Vice-Presidente do banco Itaú, Claudia Politanski, que garantiu que o Itaú iria aperfeiçoar as pautas envolvendo a diversidade, principalmente a questão das discriminações positivas, entendendo como estratégica, entre os colaboradores, clientes, fornecedores e sociedade em geral. Dois meses depois, o resultado do programa de treinee do banco aprovou apenas candidatos brancos.
“Durante a campanha nacional deste ano, os sindicatos de todo o Brasil cobraram que os bancos necessitavam tratar com mais respeito as pautas da diversidade, com recorte específico à questão racial, porque o racismo é um entrave à democracia e à gestão corporativa”, disse Júlio.
Ele diz ainda que este primeiro passo do banco Itaú é uma sinalização de mudança de rota. “É uma experiência que deve ser compartilhada com todos os demais conglomerados do sistema financeiro. Ao adequar suas políticas de inclusão, o banco agrega valor à sua marca, torna o ambiente profissional mais diverso, agrega valores e não dispersa culturas, as quais são fundamentais na conquista de novos espaços no mercado”, explica o membro do coletivo, que também é funcionário do Itaú.
Lembramos da importância da mesa de igualdade de oportunidades, mantida pelos sindicatos, as Confederações e a Fenaban, para debater temas relacionados a gênero, identidade e raça.
Julio diz que os próximos passos incluem monitorar estes jovens para identificar em que áreas eles atuarão no banco, como estão sendo tratados, se eles terão mobilidade interna e se serão efetivados após o programa de treinee.
Racismo estrutural
Os estudos desenvolvidos pela Febraban, solicitados pelos sindicatos dos bancários de todo o Brasil, respectivamente em 2008, 2014 e 2019, denominado Censo da Diversidade na Categoria bancária, identificou a discriminação experimentada pelos negros, apenas 24,7% dos bancários são afrodescendentes (sendo 3,4% pretos e 21,3% pardos), e a renda da população negra no segmento bancário corresponde a 87,3%, e as mulheres negras 68,2% em relação aos trabalhadores brancos, realizando a mesma atividade.
“É importante lembrarmos que os negros sempre estiveram dispostos aos trabalhos nos bancos, e sempre se identificaram com os propósitos da empresas, o que acontece é que com o mito da democracia racial, nos acostumamos com a ausência da população negra. Na atualidade e com o avanço das políticas públicas, este público está cada vez mais consciente dos seus direitos, não aceitando investir seus recursos em quem não os valoriza, é salutar que tenham espaço em toda a estrutura, e que não haja privilégios”, explica o bancário e coordenador do coletivo de combate ao racismo do Sindicato, Fábio Pereira.
Fonte: Seeb/SP