O crédito, enfim, voltou a dar o tom no resultado dos grandes bancos brasileiros de capital aberto. Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco e Santander devem mostrar um lucro combinado de R$ 19,239 bilhões no quarto trimestre de 2018, segundo média das projeções de analistas consultados pelo Valor.
O número indica crescimento de 12,6 na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Desde o início de 2017, os números dos bancos refletiam muito mais uma melhora no risco do que um aumento no volume de negócios. Essa tendência começou a ser revertida no terceiro trimestre do ano passado, mas foi só de outubro em diante que a chave, de fato, virou.
“Esperamos que a recuperação do crescimento do crédito seja um dos principais destaques para os bancos brasileiros, na medida em que a expansão do volume continua a acelerar, particularmente para pessoas físicas, mas também cada vez mais entre micro, pequenas e médias empresas”, afirmam analistas do Goldman Sachs em relatório a clientes. No caso de grandes empresas, o ritmo de recuperação tem sido mais lento, e parte da demanda tem sido suprida pelo mercado de capitais.
Os dados do crédito para todo o ano passado serão divulgados amanhã, terça-feira, pelo Banco Central (BC). Mas o estoque de empréstimos e financiamentos já mostra crescimento de 4,4% nos 12 meses encerrados em novembro, e a expectativa é de números ainda mais fortes para dezembro. Linhas para pessoas físicas e pequenas empresas com lastro em recebíveis têm sido os motores dessa retomada.
Com perspectivas melhores para a economia, analistas acreditam que esse cenário positivo para os bancos brasileiros vai se ampliar em 2019. Segundo o Itaú BBA, é isso que explica o movimento positivo das ações do setor no começo deste ano. O Goldman Sachs já prevê um aumento de 15%, em média, no lucro dos grandes bancos em 2019. De acordo com a equipe do banco, as instituições podem sinalizar números ainda melhores ao longo do ano caso se dissipem as incertezas sobre as reformas estruturais.
Analistas da BB Investimentos afirmam, em relatório a clientes, que os resultados dos bancos no quarto trimestre serão uma prévia do que esperar para este ano: geração de lucros mais saudáveis, aumento do estoque de crédito e mais receitas com tarifas e serviços.
O Santander, que abre a safra de balanços dos grandes bancos na quarta-feira, deve ser a instituição com desempenho mais forte do crédito. O Itaú BBA projeta crescimento anual de 12,8% na carteira de empréstimos e financiamentos do banco.
Uma das principais razões para isso é que o Santander, menos exposto a grandes empresas, conseguiu se recuperar mais cedo do ciclo de alta da inadimplência e voltou a acelerar no crédito antes que os concorrentes.
No entanto, segundo os analistas do Itaú BBA, os bancos com os melhores resultados da temporada serão o BB e, principalmente, o Bradesco. O banco da Cidade de Deus deve mostrar margens mais fortes e estabilidade nos custos associados ao risco do crédito, aponta o relatório. O Banco do Brasil, por sua vez, continuará mostrando uma melhora na qualidade de seus ativos, tendência na qual chegou atrasado em relação aos pares.
Risco menor
Embora já não seja o vetor principal dos balanços, a redução dos gastos com inadimplência vai continuar ajudando nos resultados. De acordo com analistas do Safra, o movimento de redução das despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD), que ocorre desde o início de 2017, ainda será visto nos números do quarto trimestre do ano passado, turbinando ainda mais os lucros.
Para o Safra, a queda das despesas com provisões deve ser mais acentuada no Bradesco, de 37% entre o quarto trimestre de 2017 e de 2018, do que no Banco do Brasil e no Itaú, de 18% e 15%, respectivamente, na mesma base comparativa. No caso do Santander, a expectativa é que haja um aumento de 5%, “devido a um volume muito maior de empréstimos”, dizem Luis Azevedo e Silvio Dória, analistas do Safra.
Um ponto de atenção nas demonstrações financeiras serão as receitas com prestações de serviços. Entrou em vigor em outubro a regra que limitou a cobrança das taxas de intercâmbio nas operações com cartões de débito. Ao mesmo tempo, novas tecnologias e uma concorrência mais forte “podem alterar significativamente a dinâmica de tarifas em atividades como cartões de crédito e gestão de recursos”, ressalta o Itaú BBA.
Mesmo assim, os analistas da instituição veem as receitas com prestação de serviços crescendo em 2019. “Na nossa visão, as principais mensagens para este ano devem ser crescimento de dois dígitos nas carteiras de crédito, custo de risco em queda, receita de tarifas levemente acima da inflação e despesas sob controle”, afirmam.
Fonte: bancariosdf.com.br