O documentário de longa-metragem independente das diretoras Bruna Provazi e Tica Moreno conta a história de 70 personagens, militantes da Marcha Mundial das Mulheres e de movimentos sociais aliados, como MST, MAB e CUT, e lideranças indígenas, quilombolas e comunitárias. “É a partir do enraizamento das pautas no cotidiano destas mulheres que as lutas sociais vão se construindo na prática”, afirma Bruna Provazi.
Produzido por meio de financiamento coletivo, as realizadoras percorreram 10 estados brasileiros para contar essas histórias. “O que o filme traz como mensagem é o aprendizado de luta e de vida que tivemos com cada uma das mulheres que cruzaram o nosso caminho e que agora, felizmente, temos a chance de partilhar com mais e mais pessoas. É da prática dessas mulheres que vem a nossa esperança agora”, afirma.
ENTREVISTA
BdFRS – Nos conte um pouco mais sobre o documentário, o que despertou o teu interesse por retratar a vida dessas mulheres?
Bruna Provazi – O filme nasce do desejo de registrar o feminismo popular no cotidiano, a partir das histórias de vida das militantes que compõem a Marcha Mundial das Mulheres (MMM) e os movimentos aliados. Eu já atuo no movimento feminista desde 2007, e, na época em que começamos a produzir o Formigueiro, estávamos construindo o Coletivo de Comunicadoras da Marcha. Quando ficamos sabendo que haveria uma ação da MMM descentralizada, no Interior de 10 estados do Brasil, em torno do tema “Corpos e Territórios”, durante quase todo o ano de 2015, a gente sabia que precisava documentar aquilo de alguma forma. Então fomos.
BdFRS – Quem são essas mulheres retratadas?
Bruna – Formigueiro é um filme coral, formado pelas vozes de mais de 70 personagens. São militantes da Marcha Mundial das Mulheres e de movimentos sociais aliados, como MST, MAB e CUT, e lideranças indígenas, quilombolas e comunitárias. Algumas destas histórias nós tivemos a oportunidade de conhecer mais de perto, outras apenas cruzamos pelo caminho, mas todas ajudam a compor o tecido do filme a partir do seu cotidiano.
Formigueiro é um filme coral, formado pelas vozes de mais de 70 personagens
BdFRS – Como as histórias de vida das mulheres se conectam com as histórias dos movimentos sociais?
Bruna – Esta foi uma das primeiras motivações que tivemos para sair em busca destes registros. Nós queríamos entender quem são estas mulheres que compõem um movimento popular tão plural, que reúne mulheres do campo e da cidade, de crenças e vivências tão distintas, em torno de algo comum. É a partir do enraizamento das pautas no cotidiano destas mulheres que as lutas sociais vão se construindo na prática.
BdFRS – Vocês percorreram 10 estados brasileiros para retratar essas histórias. Quais os estados e as principais diferenças e semelhanças que atravessam esses corpos? Quais os principais desafios?
Bruna – Tocantins, Minas Gerais, Paraíba, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Ceará, Rio Grande do Norte e Distrito Federal. As realidades que encontramos foram bastante diversas, sobretudo culturalmente, como dá pra ver nas músicas, cantos, danças e sotaques presentes no filme. Porém, são realidades muito semelhantes no que diz respeito ao tema geral da Ação: “Corpos e Territórios”.
Em todos os estados que visitamos, as mulheres estavam (e estão) na linha de frente destas batalhas
A primeira batalha é o direito ao próprio corpo, seja lutando contra a violência, na Paraíba e no Ceará, seja pelos direitos sexuais e reprodutivos, na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai. Outra pauta central de Norte a Sul é a luta das mulheres para permanecer em suas comunidades, seja enfrentando a ameaça das remoções nos grandes centros urbanos como no Rio de Janeiro, seja enfrentando os grandes projetos como os parques eólicos no Rio Grande do Norte e as mineradoras em Minas Gerais, que expulsam as comunidades de seus territórios e devastam o meio ambiente para gerar lucro. Em todos os estados que visitamos, as mulheres estavam (e estão) na linha de frente destas batalhas.
BdFRS – Ao apresentar o filme tu afirmas que “Sete anos se passaram e as histórias daquelas mulheres permanecem profundamente atuais”. Poderia nos falar dessa realidade quando trazemos para o contexto atual?
Bruna – Os problemas sociais que abordamos no documentário infelizmente se aprofundaram muito nos últimos anos em nosso país. O genocídio indígena e negro, as consequências negativas dos grandes projetos como a mineração e os parques eólicos, todas estas questões que não estavam tão em evidência quando saímos para filmar, em 2015, se acirraram ainda mais, sobretudo com a eleição de Bolsonaro e todo o projeto de destruição que seu governo representa, e hoje estas questões são ainda mais urgentes de serem resolvidas.
O filme traz como mensagem o aprendizado de luta e de vida que tivemos com cada uma das mulheres que cruzaram o nosso caminho
BdFRS – Que esperança traz o filme para o atual momento do país?
Bruna – Nós estamos vivendo um momento muito duro, de crise econômica e sanitária e perda de direitos em todas as esferas no Brasil. O filme traz como mensagem o aprendizado de luta e de vida que tivemos com cada uma das mulheres que cruzaram o nosso caminho e que agora, felizmente, temos a chance de partilhar com mais e mais pessoas. É da prática dessas mulheres que vem a nossa esperança agora.
BdFRS – Já tem previsão de distribuição do filme em salas de cinema ou plataformas digitais?
Bruna – Nós estamos realizando sessões de pré-estreia nos estados por onde passamos, para que as mulheres retratadas sejam as primeiras a verem o filme pronto. Já estivemos no Ceará, Rio Grande do Norte e em breve chegaremos ao Rio Grande do Sul e a São Paulo. Em paralelo, o filme está participando da seleção de festivais pelo Brasil e Portugal e, em breve, vamos disponibilizá-lo para que o público possa organizar exibições coletivas em cineclubes, espaços de movimentos sociais, escolas, praças, entre outros.
Fonte: Brasil de Fato | Por Fabiana Reinholz / Edição: Katia Marko