Pesquisa do Procon-SP mostra que, entre junho de 2017 e junho de 2018, bancos aumentaram em até 102,53% o custo das tarifas de serviços.
Pesquisa da Fundação Procon-SP aponta que existem diferenças de até 260% no custo de tarifas bancárias praticadas nas seis instituições financeiras analisadas: Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú, Safra e Santander. Foram comparados os valores dos serviços prioritários e os pacotes padronizados vigentes em 6 de junho de 2018 com os de 6 de junho de 2017.
A maior diferença encontrada foi no serviço de Operações de Câmbio – Venda de Moeda Estrangeira (cheque de viagem, emissão/carga e recarga de cartão pré-pago) e Compra de Moeda Estrangeira (cheque de viagem e cartão pré-pago). O Safra cobra R$ 90 pelo serviço. O Bradesco, R$ 25. A Caixa não disponibiliza esses serviços e o BB não oferece o serviço de cheque de viagem na venda de moeda estrangeira e, por isso, não foram considerados.
“Não dá para entender como pode existir tamanha diferença entre as tarifas por um mesmo serviço. A verdade é que eles cobram o que querem, fazem o que querem e contam com a leniência dos órgãos que deveriam promover o controle e inibir tais práticas”, disse a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira.
O Bradesco, que aumentou o custo de 28 tarifas, foi o que apresentou maior reajuste (102,53%) no serviço de Cartão de Crédito Básico – Pagamento de contas.
Reajustes superam muito a inflação
De acordo com determinações do Banco Central, as instituições financeiras são obrigadas a oferecer quatro tipos de pacotes de serviços padronizados. A maior diferença de preço encontrada, segundo pesquisa do Procon-SP, foi no Pacote Padronizado IV, o menor valor cobrado foi de R$ 31,00 pelo Safra e o maior de R$ 41,00 pelo Itaú, diferença de 32,26%.
A pesquisa do Procon-SP também aponta que os valores cobrados pelos principais serviços ficaram mais salgados no último ano. Segundo o levantamento, as instituições reajustaram em até 25% o preço cobrado pelos serviços atrelados às contas-correntes, como saques, extratos e transferências entre contas do mesmo banco. Os reajustes são, pelo menos, cinco vezes superior à inflação oficial do período, que ficou em 4,39%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
Comparando os valores dos pacotes padronizados praticados em 2017 com os de 2018, verificou-se que o valor médio aumentou em todos, sendo a maior variação no pacote padronizado IV. Em 6 de junho de 2017, o valor médio era de R$ 35,76 e na mesma data deste ano chegou a R$ 38,09, variação de 6,53%.
O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) também verificou grande aumento das tarifas. A pesquisa do Idec aponta reajuste de 14,16% nos pacotes de serviços financeiros entre novembro de 2016 e junho de 2018. A inflação no período foi de 5,8%.
Os bancos justificam as altas nas tarifas devido aos custos operacionais, mas não deixam claro como é feita a composição dos valores, uma vez que usam a mesma justificativa para a manutenção dos altos juros cobrados pelas linhas de crédito. “Eles tentam justificar o injustificável. Assim como fazem com os juros, que mantêm altos mesmo com a redução da Selic, ampliando ainda mais seus lucros, adotam a mesma postura em relação às tarifas. Os clientes pagam taxas absurdas, independentemente da situação econômica que o país enfrente”, afirmou Juvandia. “E, cada vez mais, são os próprios clientes que executam os serviços bancários pelos quais têm que pagar estas altas taxas. Os ganhos provenientes do uso da tecnologia estão sendo assimilados só pelos bancos. Aí fica fácil: com crise, ou sem crise, sempre ganham muito”, afirma Juvandia.
Exploração
O lucro dos bancos com a cobrança de tarifas de serviços aumenta a cada ano. No Itaú, a receita com a prestação de serviços ultrapassou os R$ 9,3 bilhões no primeiro trimestre de 2018. Na comparação com o primeiro trimestre de 2017, houve crescimento de 8,2% nos ganhos com tarifas bancárias.
Nos demais, a situação não é diferente. No Bradesco, esse tipo de receita chegou a R$ 6 bilhões no primeiro trimestre de 2018 (crescimento de 4,3%). No Santander, R$ 4,1 bilhões. Nos três primeiros meses de 2018, a receita com tarifas cresceu 11,5% no banco espanhol, na comparação com o primeiro trimestre de 2017. No BB, a arrecadação com tarifas de serviços chegou a R$ 6,5 bilhões (crescimento de 5,4%)e na Caixa a R$ 6,4 bilhões (crescimento de 6,1%).