Anúncio questiona atuação desses profissionais, base do avanço da XP; peça destaca a remuneração desses profissionais, feita por comissionamento (Por Fernanda Guimarães e André Vieira)
Uma campanha publicitária levada ao ar pelo Itaú Unibanco provocou uma forte reação das corretoras e, especialmente, da XP – na qual o próprio Itaú tem uma participação de 46%. Na campanha, lançada em horário nobre na TV Globo, o Itaú bateu de frente no “coração” e em um dos pilares do negócio da XP: os agentes autônomos. Questionou a remuneração desses profissionais, feita por meio do comissionamento, o que traria o incentivo de que esse agente indique ao seu cliente um produto com a melhor remuneração para ele, e não necessariamente para o cliente. Na XP estão acoplados hoje mais de 6 mil AAIs – os agentes autônomos de investimento.
Na peça publicitária do Itaú, o ator Marcos Veras diz que a moda de 2019 era ter uma corretora e um assessor de investimentos. Ele sugere que os profissionais autônomos induzem o cliente a investir em produtos sem saber dos riscos, os fazendo se sentir “reis de Wall Street”.
O comercial, criado pela DPZ&T, produção da 02 Filmes e direção de Fernando Meirelles, reforça que os especialistas do Itaú Personnalité – o braço de renda mais alta do banco – são isentos.
Há algumas semanas, o alto-escalão da XP já sabia sobre a propaganda que vinha sendo elaborada pelo Itaú. Mas o tom de seu principal acionista os pegou de surpresa, conforme fontes próxima à XP.
Nesta quarta, o fundador e presidente da companhia, Guilherme Benchimol, subiu o tom em publicação em sua conta no Linkedin. “Tenho uma certeza: se tem algo que o banco não é, nem nunca foi, é ser feito para você”, em clara alusão ao famoso slogan do Itaú.
“A campanha do Itaú só reforça que estamos no caminho certo. Para o maior banco do País, com mais de 90 anos de tradição, ir a público e ofender uma profissão tão fundamental para o desenvolvimento financeiro dos brasileiros, é porque realmente percebeu que não consegue mais competir colocando o cliente em primeiro lugar”. O mesmo comunicado foi compartilhado pela sua conta do Instagram.
Resposta
O incômodo dos AAIs fez o Itaú se pronunciar. Em nota, disse que a campanha do Itaú Personnalité “tem como objetivo ressaltar seus atributos positivos, como a plataforma aberta de produtos financeiros e o modelo de incentivos que tem como foco uma visão de longo prazo, além dos resultados e satisfação para o cliente”. Ressaltou, ainda, acreditar que ética independe de modelo e há bons profissionais em todas as configurações, seja um agente autônomo ou um gerente de banco.
Também por meio de sua conta no Linkedin, o diretor-executivo de Wealth Management do Itaú Unibanco, Carlos Constantini, disse que, por se tratar de um mercado muito disputado, “era de se esperar” uma forte reação à campanha. “Não há nenhum problema em sermos criticados, pois entendemos que diálogo é fundamental, sobretudo em uma sociedade aberta e plural como a que vivemos hoje. Um ponto importante a esclarecer é que, em momento algum, nossa campanha questiona ou desmerece os agentes autônomos de corretoras independentes. Ao contrário, sabemos da sua importância e expertise em um mercado complexo e em franca expansão. Temos trazido muitos deles para integrar o nosso time aqui no banco”, disse.
Quando comprou uma participação da XP em 2016, o Itaú pagou R$ 6,3 bilhões por 49,9% da corretora, avaliando-a, assim, em R$ 12 bilhões. Hoje a XP possui um valor de mercado de R$ 130 bilhões, se tornando, em termos financeiros, um dos melhores investimentos da história do Itaú.
Após o IPO, a participação do Itaú foi um pouco diluída e está hoje em cerca de 46%. Na B3, o valor de mercado do Itaú é de um pouco mais de R$ 240 bilhões.
Se a XP foi um bom investimento para o Itaú, o negócio acaba de colocar Benchimol na lista dos 20 brasileiros mais ricos, de acordo com a revista norte-americana Forbes.
Pelo contrato fechado na época, o Itaú pode, a partir de 2022, aumentar sua participação na XP, operação que precisará, se concretizada, receber novamente o aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Nos bastidores, comenta-se que, dada a concentração que vem se observando nos últimos anos nesse mercado, o órgão antitruste deve barrar um aumento da participação do Itaú.
Fonte: Estadão