Além da alta dos juros e das tarifas, lucros extraordinários foram obtidos com cortes de vagas, terceirização e sobrecarga de trabalho. Juntos, Banco do Brasil e Bradesco fecharam quase 10 mil postos de trabalho no setor.
Por Tiago Pereira, da RBA
Os três maiores bancos privados do Brasil registraram R$ 69,4 bilhões de lucro em 2021, em meio à pandemia. Trata-se de um aumento de 30% em relação ao ano anterior. Já o Banco do Brasil (BB) anunciou nesta terça-feira (14) que obteve lucro líquido ajustado de R$ 21,021 bilhões no ano passado, alta de 51% na comparação com 2020. Desse modo, somados aos R$ 67 bilhões de 2020, quatro dos maiores bancos do país (Itaú, Bradesco, Santander e BB) acumulam em dois anos de pandemia R$ 157,4 bilhões – a Caixa ainda não divulgou seus resultados.
As receitas cresceram em função da elevação dos juros e das tarifas bancárias. Mas o lucro dos bancos também foi graças ao aumento da exploração dos trabalhadores do setor. O BB, por exemplo, fechou 7.076 postos de trabalho em 2021, seguindo a trajetória de redução de empregos verificada nos últimos anos. O Bradesco, do mesmo modo, extinguiu 2.301 vagas, no período, apesar dos R$ 26 bi de lucro.
No Itaú Unibanco, os funcionários reclamam da sobrecarga de trabalho, apesar da alta de 45% nos lucros, que totalizaram R$ 26,8 bi. No Santander, que engordou seus ganhos em R$ 16,3 bilhões, as despesas com pessoal caíram 1,7% no mesmo período, apesar de o banco ter anunciado aumento de vagas.
Banco do Brasil
Getúlio Maciel, dirigente sindical, afirma que os resultados positivos também foram obtidos às custas da saúde dos funcionários. Nesse sentido, ele aponta que, até o mês passado, 4 mil colegas foram contaminados pela covid-19.
“Tristemente, a atual direção do BB apostou na imunidade de rebanho, comprometendo a saúde dos funcionários e de seus familiares, num claro alinhamento com a postura negacionista do desgoverno Bolsonaro”, afirmou ao site do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.
Sobre os cortes, Maciel afirma que os funcionários estão sobrecarregados, acumulando funções e adoecendo. Como resultado, o atendimento aos clientes fica prejudicado. Assim, é o “cenário ideal”, segundo ele, para jogar a população contra a instituição. “É uma estratégia orquestrada para forçar a privatização do banco. Tudo aquilo que os governos de orientação neoliberal e os bancos privados querem”, afirma Getúlio.
Bradesco
Apesar de seguir registrando balanços positivos, o Bradesco fechou 448 agências. Em razão disso, inclusive, os trabalhadores denunciam sobrecarga de trabalho, aumento da exploração e piora no atendimento ao cliente. Apenas com o que arrecada com tarifas, a instituição cobre 128,66% de sua folha de pagamento, incluindo a PLR.
“O banco não tem por que demitir com esses resultados. Muito pelo contrário, tanto Bradesco quanto outros bancos poderiam contratar mais para contribuir com a geração de empregos, o que beneficiaria o país e faria com que atendessem melhor a população”, afirma a secretária-geral do sindicato, Neiva Ribeiro, bancária do Bradesco.
Itaú Unibanco
No Itaú Unibanco, os lucros foram equivalentes a mais de duas vezes e meia o gasto com pessoal. Somente o valor arrecadado com as tarifas, o banco consegue pagar toda a sua folha de pagamento e ainda sobram R$ 18,4 bilhões. No ano passado, o banco ampliou a sua base de clientes em 32,5%. A quantidade de trabalhadores, no entanto, aumentou apenas 8,0%.
“Novamente os dados reforçam que as contratações realizadas em 2021 não passaram nem perto de diminuir a sobrecarga de trabalho no Itaú, onde as metas são cada vez mais abusivas”, disse Marta Soares, secretária de Comunicação do sindicato e bancária do Itaú.
Santander
O banco espanhol foi o primeiro a apresentar seus resultados. O lucro líquido de R$ 16,3 bilhões representou alta de 7% em relação a 2020. Não por acaso, as operações brasileiras respondem por 26,9% do lucro global da instituição. O banco abriu cerca de 4,2 mil postos de trabalho no ano passado. A maior parte, no entanto, não são de bancários, mas funcionários terceirizados. Assim, as despesas com pessoal, incluída a PLR, caíram 1,7% no período.
“As agências permanecem com poucos funcionários, sobrecarregados, adoecidos, sofrendo assédio e uma pressão absurda por metas”, avalia a também diretora do Sindicato e coordenadora da COE Santander, Lucimara Malaquias. É o Santander reduzindo a remuneração e cortando direitos para majorar seu resultado às custas dos trabalhadores que constroem o lucro do banco dia após dia”, acrescenta.
Fonte: Rede Brasil Atual