A menos de um mês do início da 2ª fase do open banking, bancos como Itaú, Santander e BB já sondam clientes (POR MARÍLIA ALMEIDA, Repórter de Invest marilia.almeida@exame.com)
A menos de um mês do início da segunda fase do open banking, alguns bancos, como Itaú, Santander e Banco do Brasil, começam a enviar a clientes um tipo de pré-cadastro similar ao que ocorreu na fase de implantação do PIX. No Itaú, por exemplo, o banco pergunta se o cliente deseja compartilhar informações bancárias e com quais instituições financeiras, oferecendo uma lista com nomes como Caixa e Nubank.
A fase 2 do processo de abertura de dados bancários no Brasil nada mais é do que o início do consentimento de clientes sobre compartilhamento de dados cadastrais e de crédito mantidos em outras instituições financeiras com o banco onde tem conta e faz esse pedido.
Mas, afinal, realizar esse cadastro tem validade para quando o sistema começar a rodar? Segundo os próprios bancos, não.
O pré-cadastro não tem validade jurídica. Quando o sistema for iniciado de fato pelo Banco Central, os bancos terão de pedir novamente o consentimento dos clientes sobre o compartilhamento de dados.
Além disso, segundo Fábio Lins, superintendente executivo de open banking do Banco Original, esse consentimento valera para uma instituição financeira por vez, da escolha do cliente. “O banco poderá pedir o consentimento diversas vezes, mas não conseguirá induzi-lo a clicar em determinada instituição financeira ou período de tempo. Será uma tela padronizada”.
O pedido oficial precisará ainda deixar claro quais informações ele está consentindo em dar (se de cadastro, crédito ou movimentações que faz em sua conta) e para qual período de tempo vale esse consentimento (se referentes a dados dos últimos doze meses ou cinco anos, por exemplo).
O processo do pedido de consentimento oficial terá camadas de segurança. O cliente terá de aceitar o pedido pelo app, que direcionará o usuário para o aplicativo da instituição financeira apontada no consentimento. Para completar o processo de consentimento, precisará se logar nessa instituição financeira escolhida, como forma de evitar fraudes.
“Devemos implantar o pré-cadastro no Original na próxima semana”, completa Lins. É mais um lembrete para clientes de que o open banking vai começar e, para participar, ele terá de dar esse consentimento de que quer compartilhar informações com o banco”.
O convite, diz o BB, em nota, é apenas uma manifestação de interesse do cliente em compartilhar dados com o banco. “A autorização do compartilhamento de dados só irá ocorrer a partir de 15 de julho, pelo próprio cliente, que irá escolher o que compartilhar, com quem, por quanto tempo e para que finalidade”.
O objetivo do pré-cadastro, completa o banco, é “aproximar o tema do cliente e fazer um sensoriamento sobre o interesse do cliente no tema, para retroalimentar estratégias de negócios e abordagens”.
Novo calendário e adiamento
Nesta terça-feira, 15, o Banco Central divulgou um novo calendário de implantação da fase 2 do sistema, que vale tanto para pessoas físicas como jurídicas. Nesse calendário, houve o adiamento de algumas etapas, devido à complexidades técnicas dos bancos para se adaptarem e se preparem para esse processo.
Agora, no dia 15 de julho será iniciada a fase de consentimento apenas relativas a informações cadastrais, e apenas para 0,1% da base das cerca de 1.500 instituições participantes do sistema.
Já no dia 2 de agosto os bancos poderá começar a pedir consentimento sobre compartilhamento de dados sobre informações da conta bancária, agora apenas para 0,5% de sua base de cliente.
No dia 16 de agosto começa a fase de pedidos de consentimento para compartilhamento de dados do cliente sobre informações de cartão de crédito para 1% da base de clientes. Por fim, em 30 de agosto, todos esses consentimentos poderão ser ampliados para 10% da base de cada instituição financeira.
Esse primeiro calendário da fase 2 do open banking tem previsão de término no dia 12 de setembro. Apenas a partir dessa data, diz Lins, o sistema irá funcionar 24 horas por dia, 7 dias por semana. Antes, os dados somente poderão ser trocados das 8h às 18h.
Portanto, o cliente bancário não deve se preocupar caso não receba o pedido oficial de consentimento dos bancos onde tem conta. Esse aviso será distribuído de forma gradual a toda a base de clientes. Lembrando que, como já aconteceu diversas vezes, o calendário do open banking do Banco Central está sujeito a mudanças.
Na fase 4, prevista para dezembro, o usuário poderá começar a consentir o compartilhamento de dados referentes a investimentos, seguros e produtos de previdência com o banco.
O que cada banco está fazendo
Os clientes pessoa física e jurídica do Itaú Unibanco que quiserem iniciar a autorização de compartilhamento de dados com o banco já podem manifestar essa opção aceitando realizar o pré-cadastro pelo internet banking ou se cadastrando em um site criado para isso. Segundo o banco, em nota, esse primeiro contato tem o intuito de verificar qual é o grau de entendimento dos clientes sobre o tema e a pré-disposição das pessoas em compartilhar dados.
O Santander conta que vai disponibilizar aos clientes funcionalidades de gestão financeira no aplicativo, como a consulta de extratos de suas contas fora do banco a partir da evolução do open banking, assim como já foi anunciado pelo BTG+. O pré-cadastro do consentimento ao open banking está disponível no site, internet banking e app do banco tanto para pessoas físicas como jurídicas.
O Banco do Brasil treina seus assistentes virtuais (Whatsapp – 61 4004.0001 e Google Assistente) para esclarecer dúvidas sobre o open banking desde março e também já iniciou a fase de convidar o cliente para participar do open banking, por meio do whatsapp, app, internet banking e e-mail do banco.
Quais são os benefícios do open banking?
Jayme Chataque, superintendente executivo de open banking do Santander Brasil, aponta que a plataforma financeira vai dar liberdade para o cliente deixar o seu dinheiro com quem oferecer as melhores condições.
“Conhecendo melhor os dados de clientes, poderemos oferecer produtos e serviços mais aderentes ao perfil e necessidades de cada um, melhorando nossa capacidade de análise de riscos, estimativa de renda, faturamento e definição de preço. Isso pode até mesmo melhorar o acesso ao crédito para clientes, mesmo no início do relacionamento com o banco” disse o executivo, em nota.
Lins, do Original, dá exemplos práticos. O compartilhamento de dados cadastrais, como endereço, e-mail e dados de identificação, poderão servir para simplificar o processo de abertura de conta à pessoa física ou jurídica que der esse consentimento.
“Caso o usuário seja cliente de um banco com credibilidade eu sei que posso confiar na informação e dispensá-la de digitar todas as informações, se desejar abrir conta comigo: esses dados serão pré-preenchidos na hora em que o usuário quiser fazer esse cadastro, inclusive com o intuito de obter empréstimos”.
Caso queira compartilhar seus dados financeiros, como o extrato de um ano de sua conta corrente e fatura do cartão de crédito em outra instituição financeira, o banco será capaz de saber qual taxa está sendo cobrada pelo concorrente e realizar uma oferta para diminui-la, conceder mais limite de crédito e dar uma linha de crédito que o cliente pode não ter no concorrente.
“Por exemplo, no Original seremos agressivos. Se o cliente vier de um banco tradicional, com alta confiabilidade, vou dar de 20% a 30% a mais de crédito do que ele tem em seu banco atual. Estamos dispostos a correr esse risco porque temos embasamento para isso. A informação de que ele vem de um determinado banco refina e sofistica meu modelo de crédito, tornando o processo mais rápido“.
“Se o cliente entender que seus dados podem ser usado para beneficio próprio, o open banking vai deslanchar. Ao criá-lo o BC busca aumentar, definitivamente, a concorrência entre os bancos no país“, conclui Lins.
Fonte: Exame Invest