O Bradesco informou na noite desta quinta-feira que provisionou 100% de sua exposição à Americanas, o equivalente a R$ 4,9 bilhões, e fechou o ano de 2022 com um lucro líquido de R$ 20,7 bilhões, redução de 21,1% em relação a 2021.
O lucro líquido do banco foi de R$ 1,437 bilhão no quarto trimestre, queda de 54,7% em relação ao mesmo período do ano passado.
É o pior resultado trimestral do banco desde o terceiro trimestre de 2006, quanto teve lucro líquido de R$ 219 milhões, segundo levantamento do Trademap.
O banco é um dos maiores credores da varejista e, assim como o Itaú, decidiu provisionar toda a sua exposição à Americanas, o que evita impactos negativos nos próximos balanços se não houver recuperação da dívida.
“O balanço de 2022 retratou um período cuja principal característica foi a superação de relevantes desafios conjunturais e de mercado. Ao final do exercício, chegamos a um lucro líquido de R$ 20,7 bilhões, apesar da provisão integral para um cliente específico”, diz em nota o presidente do banco, Octavio de Lazari Junior, sem citar nominalmente a Americanas.
A Americanas informou ao mercado, em janeiro, ter detectado um rombo contábel de R$ 20 bilhões e entrou com pedido de recuperação judicial aceito no dia 19 de janeiro. As dívidas da varejista somam R$ 48 bilhões.
“Não fosse o provisionamento de Americanas, o banco teria entregue um lucro líquido acima da expectativa do mercado. Mas o resultado foi ruim e a inadimplência continua alta”, diz em nota André Fernandes, chefe de Renda Variável e sócio A7 Capital.
As ADRs (recibos de ações do Bradesco negociados em Nova York) caem mais de 5% no after-hours, com o investidor estrangeiro demonstrando decepção com o resultado.
Lazari afirmou na nota afirmou que o resultado também foi afetado pelo impacto negativo da margem com o mercado. Também afetou o resultado do banco o aumento da inadimplência no crédito para o segmento massificado de pessoas físicas e jurídicas em razão da alta da inflação, que afetou a renda dos clientes. E, adicionalmente, uma provisão de R$ 4,9 bilhões referente a 100% de exposição de crédito para um cliente específico do atacado.
A margem financeira atingiu R$ 16,677 bilhões, queda de 1,7% na comparação ano a ano. O índice de inadimplência do Bradesco para empréstimos acima de 90 dias cresceu 0,4 ponto percentual em relação ao terceiro trimestre, para 4,3%.
E a carteira de crédito expandida foi de R$ 891,9 bilhões entre outubro e dezembro de 2022, um aumento de 9,8% em relação ao mesmo período do ano passado.
Segundo Lazari, o resultado 2023 será ainda impactado por maiores provisões.
A Provisão de Devedores Duvidosos (PDD) expandida totalizou R$ 14,881 bilhões no quarto trimestre, ante R$ 4,823 bilhões registrada no mesmo trimestre de 2021.
“No segmento massificado o crescimento de provisões acompanhará a expansão da carteira, e, no atacado, teremos provisões normalizadas”, disse na nota.
Inflação elevada levou a perda de renda
O presidente do banco explicou no texto que a inflação elevada a partir de meados de 2021 levou a uma perda de renda da população. Segundo ele, isso aconteceu de forma muito mais rápida e intensa do que o banco esperava ao longo de 2022, processo que foi agravado pelo aumento do preço dos alimentos e combustíveis.
O banco diz que com inflação mais relevante, houve aumento das taxas de juros maior que o inicialmente antecipado, impactos no ciclo de crédito e um ambiente global de grande instabilidade política e econômica.
“O Bradesco possui historicamente uma importante exposição aos segmentos de baixa renda e pequenas empresas. Nós consideramos esse posicionamento de mercado estrategicamente correto, mesmo que neste ciclo estejamos sofrendo com a inadimplência. Acreditamos que esse posicionamento se provará mais uma vez acertado ao longo do tempo, como resultado dos devidos ajustes que estamos promovendo no custo de servir a todos os clientes”, afirmou no texto.
Fonte: O Globo