Criminosos têm alugado contas para transferir o dinheiro roubado em golpes e dificultar o rastreio pelas instituições financeiras.
Ficou mais fácil abrir conta ou operar com um banco via celular ou via computador. Mas essa comodidade tem um lado negativo: o correntista ficou mais sujeito a golpes e fraudes.
Como apontam as estatísticas da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em 2021, sete em cada dez transações bancárias foram completadas por canais digitais e mais de 10,8 milhões de contas digitais foram abertas.
Embora o meio digital facilite os crimes, grande parte das fraudes acontece por falhas na segurança. Não são apenas os correntistas que se protegem mal. Os bancos também vêm apanhando nesse quesito. Apenas neste ano, os bancos instalados no Brasil deverão investir R$ 35 bilhões em tecnologia, dos quais R$ 3,5 bilhões em segurança cibernética. Apesar do alto volume dos investimentos na área, os bancos têm falhado no controle do uso de contas fajutas que movimentam o dinheiro do crime.
O Banco Central tem ampliado a fiscalização para conter o uso de contas laranja em fraudes e identificar brechas na abertura de contas digitais. Mas as grandes mudanças na própria tecnologia digital voltada ao setor financeiro exigem mais empenho para controlar o problema.
Embora considere maduro o processo de abertura e operacionalização de conta digital no Brasil, André Fleury, diretor executivo da Accenture para Cibersegurança na América Latina, acredita que a falta de comunicação entre as instituições está facilitando operações ilícitas.
“Ainda não há parâmetros rigorosos para evitar que, por exemplo, um CPF de uma conta bloqueada por atividade suspeita em uma instituição seja utilizado para abrir nova conta em outro banco”, explica Fleury.
É preciso também avanço tecnológico para identificar padrões de comportamento de depósitos e transferências do correntista para associá-los à renda declarada pelo titular no momento de abertura da conta. Com o cruzamento dessas informações, é possível identificar fraudes oriundas de sucessivas transações acima dos rendimentos declarados e evitar o aluguel de contas laranja.
Leandro Vilain, diretor executivo de Inovação, Produtos e Serviços Bancários da Febraban, reconhece que essa prática tem facilitado a atuação das quadrilhas. “Hoje o aluguel de contas é o mecanismo mais utilizado do que a tentativa de burlar o processo de abertura de contas com documentos falsos, porque muita gente entende que alugar a própria conta não produz nenhum ônus. Esse é o grande problema”, afirma o executivo.
Entre as principais ideias da Febraban para combater o problema está a de reduzir os limites disponíveis de transação pelo Pix (principal meio utilizado para escoar rapidamente o dinheiro roubado em golpes), que seriam determinados pelos bancos, e não por disposição regulamentar, como é hoje. Para aumentar o limite, o cliente teria de solicitar ao banco, o que poderia facilitar a identificação do uso indevido da conta.
Fonte: Estadão