O dia 10 de setembro é considerado o dia mundial da prevenção ao suicídio, em referência à memória do jovem estadunidense Mike Emme, que tirou sua própria vida em 1994.
Por Alexandre Pellaes
Durante todo o mês e com mais ênfase na semana do dia 10, diversos países criam ações de conscientização e prevenção sobre o tema. Aqui no Brasil, desde 2015, são realizadas as campanhas do Setembro Amarelo.
O tema é tabu, é incômodo, é pouco divulgado, mas está aí. Não adianta escondê-lo. É necessário reconhecer que condições e relações negativas de trabalho, associadas a elevados níveis de pressão por resultados e entrega, podem se tornar um agravante para o desequilíbrio emocional, estresse e exaustão de um(a) profissional.
Por essa razão, as empresas e líderes desempenham um papel crítico na prevenção do suicídio na força de trabalho e na proteção de suas equipes, contra a desconexão e o esgotamento físico e mental. No entanto, nem sempre a valorização do ser humano vem antes da tentativa da preservação dos negócios e da imagem organizacional.
Há algumas semanas, em São Paulo, um estagiário de um dos grandes escritórios de advocacia do país, se atirou do terraço do 7º andar. O rapaz de 19 anos se salvou e não sofreu lesões críticas, pois caiu sobre o toldo do térreo.
Houve especulação sobre as condições de trabalho desse profissional, sobre as relações de liderança, insinuações de desrespeito e pressão excessiva, em um mercado altamente competitivo e de trabalho árduo.
No entanto, o que mais me chocou foram as declarações de uma sócia do escritório que, dois dias após o ocorrido, reconheceu o ambiente organizacional de alta exigência, mas afirmou estar “muito à vontade, muito tranquila, de confirmar a vocês que não havia nenhuma excepcionalidade, nenhuma circunstância que saísse do nosso controle ou que saísse da normalidade do escritório” (aspas de acordo com o site DireitoNews e áudio compartilhado nas redes).
Sabe, gente… Com mais de 30 anos de carreira e com profundo conhecimento sobre o mecanismo complexo das estruturas e das relações organizacionais, posso afirmar que um evento como esse merece um olhar atencioso, maduro, interessado e, principalmente, humilde e aberto a reconhecer possíveis vieses e falhas da gestão. Caso contrário, o foco é mantido em cuidar da imagem em vez de cuidar das pessoas.
Sei que há regras e há exceções. No mundo do trabalho, tem que olhar para as duas, porque ambas são feitas por pessoas.
É hora de assumir o compromisso real de criar novas práticas de trabalho, de viver os valores que são proferidos em palestras e entrevistas, de se apropriar do compromisso de tornar as empresas uma plataforma de desenvolvimento humano e construção de legado e impacto.
Não há um modelo certo para o futuro do trabalho, mas, certamente, há um modelo errado: o do abuso, da pressão, da imposição de poder, da diminuição do ser humano, da arrogância, do lucro acima de tudo, do desprezo pelas diferenças, do desrespeito. Por isso, esse modelo precisa acabar.
O mundo do trabalho não anda fácil. Estamos um pouco perdidos. Mas, olha só, não estamos perdidos sozinhos. Peça ajuda. Ofereça ajuda.
Às vezes, sem percebermos, confundimos respeito com omissão – outras vezes, é preguiça mesmo… Vemos que alguém não está bem, mas deixamos pra lá. Mas, atenção: não pense que a responsabilidade sobre o bem-estar das pessoas no mundo do trabalho é só da empresa.
Afinal, não existe uma entidade “empresa” desconectada da entidade “pessoas”. Nós todos(as) somos corresponsáveis pela nossa comunidade de trabalho. Nós todos(as) podemos ter um impacto positivo sobre as pessoas ao nosso redor.
Talvez você sinta que não pode mudar a realidade penosa da estrutura do trabalho, mas certamente você pode contribuir para a mudança da visão de uma pessoa que está com as lentes sujas e não consegue enxergar um caminho.
Que sejamos mais disponíveis, mais amáveis, mais gratos, mais compassivos, mais empáticos, mais humanos.
Se você sente que precisa de ajuda, e não sabe a quem recorrer, ligue 188 – Centro de Valorização à Vida. Não tenha vergonha ou autojulgamento. Apenas ligue. Tem horas em que, além do suporte das pessoas com quem convivemos, é necessário apoio profissional.
Se você quer implementar ações de prevenção ao suicídio em sua empresa, a Organização Mundial da Saúde tem uma página com guias para download e diversas línguas, inclusive em português.
Um abraço, boa semana e muito bom trabalho.
(Deixe seus comentários aqui no texto ou interaja comigo lá no instagram @pellaes)
Busque ajuda
Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV (Centro de Valorização da Vida) e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento gratuito em todo o Brasil.
Lugares Incríveis para Trabalhar
O Prêmio Lugares Incríveis Para Trabalhar é uma iniciativa do UOL e da FIA para reconhecer as empresas que têm as melhores práticas em gestão de pessoas. Os vencedores são definidos a partir dos resultados da pesquisa FIA Employee Experience (FEEx), que mede a qualidade do ambiente de trabalho, a solidez da cultura organizacional, o estilo de atuação da liderança e a satisfação com os serviços de RH. A pesquisa já está na fase de coleta de dados das empresas inscritas e as empresas vencedoras devem ser anunciadas em setembro.
Fonte: UOL