Itaú, Bradesco, Santander, Caixa e BB lucraram, juntos, R$ 103,5 bi; Febraban diz que setor é aberto e competitivo.
Dos R$ 132 bilhões de lucro líquido registrado no sistema bancário em 2021, 78% ficaram com os cinco maiores bancos do país –Itaú, Bradesco, Santander, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil.
Segundo dados enviados pelo Banco Central a pedido da Folha, as cinco instituições tiveram, juntas, lucro líquido de R$ 103,5 bilhões no ano passado. O volume total do sistema está no relatório de estabilidade financeira divulgado pela autoridade monetária no dia 9 de agosto.
O BC não detalhou os números separados de cada um dos bancos em 2021, mas levantamento feito pela reportagem a partir das demonstrações contábeis das instituições financeiras mostra que, entre os principais bancos privados, o Itaú teve o maior lucro líquido contábil acumulado no último ano, com R$ 24,9 bilhões.
O Bradesco, por sua vez, registrou R$ 21,9 bilhões de lucro líquido contábil em 2021, e o Santander fechou o último ano com lucro líquido societário de R$ 14,988 bilhões.
Já o Banco do Brasil reportou que, na visão societária, o lucro líquido de 2021 totalizou R$ 19,7 bilhões; a Caixa registrou R$ 17,2 bilhões no acumulado do último ano.
O montante total de acordo com os dados dos balanços equivale a R$ 98,8 bilhões. Os dados do BC têm ajustes feitos pela autoridade monetária para eliminar eventos não recorrentes nos balanços das instituições de maior porte.
FEDERAÇÃO DE BANCOS DIZ QUE LUCRO ESTÁ VOLTANDO AO NÍVEL PRÉ-PANDEMIA
Procurados, Itaú, Bradesco, Banco do Brasil e Santander disseram que a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) se pronunciaria em nome das instituições. A Caixa respondeu que não iria se manifestar.
Segundo a Febraban, o atual nível de lucro do setor bancário está retornando ao patamar pré-pandemia. “A rentabilidade do setor bancário, em média, está alinhada com a realidade de outros setores da economia brasileira”, disse.
Quanto à concentração, a entidade afirmou que, no Brasil, o setor bancário é “extremamente competitivo e aberto à entrada de novos concorrentes, tanto locais como estrangeiros” e que não existem barreiras regulatórias que impeçam o ingresso de novos participantes.
“Há muita confusão entre concentração e falta de competição. A atividade bancária, como outras que exigem elevados volumes de capital, tem maior grau de concentração, em especial no chamado varejo bancário. Mas, no caso do mercado brasileiro, o nível de concentração é considerado moderado, como o próprio Banco Central reconhece”, disse.
Segundo o relatório de estabilidade financeira do BC, o sistema financeiro brasileiro tem hoje 136 instituições bancárias, sem considerar instituições de pagamento.
A concentração bancária já foi motivo de críticas do ministro Paulo Guedes (Economia), que, em videoconferência promovida em maio de 2020, disse que “200 milhões de trouxas” são explorados por seis bancos.
DITADURA INCENTIVOU CONCENTRAÇÃO BANCÁRIA, DIZ ECONOMISTA
A economista Carla Beni, professora de MBAs da FGV (Fundação Getulio Vargas), afirma que a concentração do setor tem raízes históricas no Brasil e foi iniciada durante a ditadura militar.
“Havia um ideal de que concentrando se ganhava em escala e isso poderia reduzir o custo para o tomador final. Essa ideia veio sendo carregada inclusive depois da democratização”, disse.
Nas últimas décadas, contribuíram para a concentração o Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional), no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), a liquidação de bancos estaduais e a fusão de instituições. O alto investimento com o avanço da tecnologia também colaborou para a centralização.
“A concentração bancária em outros países acontece, mas a concentração bancária no Brasil é um instrumental de enriquecimento disfuncional”, afirmou Beni.
A especialista, contudo, vê um esforço de atuação do BC para mudar o cenário com a regulamentação das fintechs, a criação do open banking e o lançamento do open finance –sistema que propõe a ampliação do compartilhamento de dados pessoais, bancários e financeiros entre instituições, mediante autorização prévia do cidadão.
Olhando para um universo mais amplo no mercado financeiro, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou em maio que, com a ascensão das fintechs nos últimos anos, houve redução do índice de concentração.
“Nós diminuímos a concentração bancária de 81,2% em 2018 para 77,6% em 2020. O dado de 2022 deve estar perto de 71%”, disse Campos Neto em audiência pública na Comissão de Defesa do Consumidor, realizada na Câmara dos Deputados.
O relatório de estabilidade financeira do BC também mostrou que o montante de R$ 132 bilhões foi 49% superior ao lucro líquido registrado pelos bancos em 2020, em período afetado pela pandemia, e 10% acima do observado em 2019.
O crescimento da margem de juros (a taxa básica saltou de 2% a 9,25% ao ano em 2021), a redução de despesas com provisões e ganho de eficiência são os três fatores que explicam o resultado obtido pelas instituições no ano passado, de acordo com o documento.
Para 2022, o BC aponta que os lucros dos bancos tendem a crescer em ritmo mais lento, ainda que a rentabilidade do sistema deva se manter resiliente.
“O cenário para 2022 é de atividade econômica mais fraca, menor crescimento do crédito, normalização da inadimplência, e de custo de captação e operacional mais altos. Esses elementos representam obstáculos para a evolução da rentabilidade à frente”, afirmou.
O relatório também trouxe que, mesmo com o Pix ganhando mais relevância no sistema financeiro ao longo do último ano, as receitas dos bancos com serviços cresceram 10% na comparação entre 2021 e 2020, impulsionadas pela melhora da atividade econômica.
Fonte: Folha de São Paulo