Direção é acusada também de impor ideologia política no banco público, pressionando empregados a não usar vermelho, cor associada ao PT
O procurador Paulo Neto, do Ministério Público do Trabalho no Distrito Federal e Tocantins, advertiu o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, que se abstenha de constranger os funcionários a fazer flexões em eventos do banco, como aconteceu nesta terça-feira, 14 de dezembro, ou será alvo de investigação do órgão. Durante o evento Nação Caixa, realizado no hotel Bourbon em Atibaia-SP, Guimarães, imitando Jair Bolsonaro, convoca os funcionários para que se posicionem para a flexão e começa a contar os movimentos, como se pode comprovar em vídeos que circulam nas redes sociais.
Na recomendação, o procurador solicita a Guimarães que, “na condição de presidente da Caixa Econômica Federal, abstenha-se de submeter os empregados do banco público a flexões de braço e a outras situações de constrangimento no trabalho ou dele decorrente, sob pena de instauração de procedimento investigatório no Ministério Público do Trabalho e adoção de medidas administrativas e/ou judiciais cabíveis para a correção da conduta, sem embargo das responsabilizações civil, criminal e administrativa pelo eventual descumprimento da presente notificação”.
O MPT respondeu a uma denúncia feita por funcionários da Caixa, que disseram ainda ter sido “obrigados a fazer performances similares, numa demonstração feita para um militar que deu palestra para os participantes do encontro presencial”. O militar presente era o coronel da reserva e assessor do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, Adriano de Souza Azevedo.
O vídeo com as cenas das flexões foi anexado a uma denúncia ao MPT feita pela Contraf (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) e pela Fenae (Federação das Associações do Pessoal da Caixa) em que Pedro Guimarães é acusado de assédio moral contra os funcionários do banco. Uma das acusações diz respeito à pressão da atual direção da CEF sobre os empregados para a comercialização das ações da Caixa Seguridade nas agências bancárias.
Para manter o “padrão de excelência” da Rede de Varejo da Caixa, as marcações no piso das agências, que organizam as filas e mantêm o distanciamento, devem ser feitas na cor azul. “Jamais vermelho!”, destaca o comunicado interno do banco
De acordo com o Sindicato dos Bancários de São Paulo, houve pressão, inclusive, para que os próprios empregados comprassem as ações da Caixa Seguridade e, para que isso se concretizasse, Guimarães chegou a autorizar a antecipação de salários dos bancários. A pressão se confirma pelo fato de o presidente da Caixa ter comemorado, em discurso na Bovespa, que 55 mil empregados da Caixa haviam adquirido ações da Caixa Seguridade.
A publicação dos vídeos com as flexões por veículos da imprensa disparou outras denúncias dos empregados, segundo a Fenae. Eles alegam que a direção do banco quer impor ideologia política na instituição e que são pressionados a não usarem vermelho, cor associada ao Partido dos Trabalhadores. Um comunicado interno do banco confirma as denúncias. Para manter o “padrão de excelência” da Rede de Varejo, as marcações no piso das agências, que organizam as filas e mantêm o distanciamento, devem ser feitas na cor azul. “Jamais vermelho!”, destaca o comunicado.
“Assédio moral não é novidade desde que Pedro Guimarães assumiu. O que é novo é ele não se preocupar em esconder que faz. Já está escrachado”, criticou Dionisio Reis, diretor do Sindicato e bancário da Caixa. “Durante o evento fez diversas outras atividades como se fossem motivacionais, mas na verdade é tudo intimidação.”
Outra preocupação dos sindicalistas é o uso da CEF e de recursos financeiros do banco pelo presidente para promoção pessoal. “Ele usa a Caixa como palanque, para se promover. Viaja o Brasil todo se promovendo. As provas estão todas no instagram dele”, denunciou Dionisio. De fato, em seu instagram, é possível ver que Pedro Guimarães não para em Brasília: esta semana estava em São Paulo, na outra em Minas Gerais, na anterior na Bahia… E, em todas as atividades que faz em nome do banco, aparece em primeiro plano, ferindo o princípio da impessoalidade no exercício do cargo.
Na próxima semana haverá uma plenária dos empregados da Caixa para avaliar as condições de trabalho. Situações similares às flexões já foram motivo de condenação de empresas por assédio moral. Em 2017, a rede de supermercados Walmart foi condenada pelo TRT (Tribunal Regional do Trabalho) a pagar 100 mil reais a um gerente obrigado a rebolar em São Paulo. O gerente, que comandava 16 funcionários, alegou que o diretor do supermercado o obrigava a cantar e a rebolar durante o grito de guerra da empresa, denominado de “cheers”, na frente dos clientes, o que o expunha a uma situação constrangedora.
Em 2011, a Ambev foi condenada pelo TST (Tribunal Superior do Trabalho) a pagar 25 mil reais de indenização a um vendedor do Rio Grande do Sul que reclamou à Justiça trabalhista por ter sido obrigado a se deitar num caixão ao não atingir as metas de vendas, como se estivesse morto. Os vendedores eram ainda ameaçados de ser “extirpados” do quadro de funcionários, ameaça ilustrada por ratos e galinhas enforcados que eram dependurados na sala de reuniões.
Os bancários são uma das categorias profissionais que mais sofrem com o assédio moral. De cada 10 denúncias de assédio moral no país, três são contra bancos. Segundo o presidente da Fenae, Sergio Takemoto, a situação na Caixa se agravou desde que Pedro Guimarães assumiu.
“A atual gestão tem estabelecido programas e cobranças por metas que estão adoecendo os empregados. No ano passado, com o pagamento do auxílio e de outros benefícios sociais operados pelo banco, os empregados se desdobraram para atender a população e ainda tiveram que lidar com a pressão para atingir metas, que não diminuiu nem quando o atendimento social era urgente e gerou filas quilométricas nas agências”, disse Takemoto.
Com informações do Sindicato dos Bancários de SP e da Fenae
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