A Caixa Econômica Federal encomendou para auditores um trabalho de faxina em seus demonstrativos financeiros dos últimos anos para depurar o “custo da corrupção” nos governos anteriores, apurou o Broadcast com fontes próximas à instituição. O trabalho, que ocorre após a retirada de ressalvas no balanço por créditos problemáticos feitos em gestões passadas, deve ser apresentado na divulgação de resultados do segundo trimestre, prevista para ocorrer em agosto.
O pedido partiu do próprio presidente da Caixa, Pedro Guimarães, e ocorre em momento de baixa popularidade do presidente Jair Bolsonaro, do qual é próximo. Na prática, o objetivo, conforme fontes, que concordaram em falar no anonimato, é destacar da contabilidade do banco as receitas obtidas com empréstimos para grandes companhias nos governos anteriores e também as provisões para devedores duvidosos, as chamadas PDDs, constituídas na gestão atual para fazer frente às perdas esperadas.
Os cálculos são mantidos sob sigilo. Atualmente, quem assina o balanço da Caixa é a PwC, antiga PricewaterhouseCoopers. A missão da auditoria é identificar o impacto nos números do banco e que gerou as ressalvas nos demonstrativos por anos. Também foi a PwC a responsável por inseri-la no balanço da instituição.
No caso da Caixa, a ressalva foi mantida entre os anos de 2017 e 2019 e impediu a instituição de realizar emissões no mercado externo e também no local, dificultando o acesso a investidores para a captação de recursos. Já no balanço do Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS), gerido pela instituição, as ressalvas foram inseridas em 2011 e retiradas apenas em 2019. Sobrou ainda para o próprio balanço do FGTS, cujo questionamento das auditorias foi removido neste mês, depois de seis anos.
Operação Lava Jato
As ressalvas foram inseridas nos balanços por empréstimos malsucedidos feitos a grandes empresas, posteriormente envolvidas na Operação Lava Jato, maior esquema de corrupção do País, como a Odebrecht e o Porto Maravilha. No caso do porto, gestores da Caixa envolvidos no projeto, que contou com recursos do banco público e do FGTS, foram mencionados em casos de propina.
No período em que foram feitas, essas operações contribuíram para elevar os resultados da Caixa nos governos anteriores. Entretanto, depois da descoberta de esquemas de corrupção, conforme as investigações feitas na época, o banco público teve de provisioná-las.
O movimento ocorreu na atual gestão, de Guimarães. Ainda em 2019, primeiro ano de seu mandato, o executivo determinou um reforço nas provisões por conta de créditos que, na prática, geraram perdas ao banco. Além disso, também fechou as torneiras de recursos para grandes empresas, alegando que o foco da sua gestão era emprestar para a ‘padaria do Seu Joaquim’.
Agora, com a varredura em seus números, o plano de Guimarães, diz uma fonte, é provar que o lucro apresentado em gestões anteriores é inferior ao entregue em seu mandato, considerando a exclusão de empréstimos problemáticos. No ano passado, segundo da administração atual, a Caixa Econômica Federal viu seu lucro líquido encolher 37,5% ante 2019, para R$ 13,169 bilhões.
“Banana com banana”
A gestão de Guimarães quer comparar, nas palavras de um interlocutor, “banana com banana”. Como respaldo, utilizará exatamente as operações de crédito apontadas como fraudulentas por auditores que analisaram os números do banco nos anos anteriores.
A varredura nos balanços da Caixa ocorre somente agora, no terceiro ano da administração de Pedro Guimarães, escolhido para capitanear a instituição no governo Bolsonaro. Como pano de fundo, há o acirramento do embate político, com a queda de popularidade do presidente da República em meio à CPI da covid-19 e pedidos de impeachment. Próximo a Bolsonaro, Guimarães se tornou uma espécie de garoto-propaganda do governo, participando ativamente do dia a dia e das lives semanais do presidente. Também tem ido na direção contrária do mercado e inagurado agências, enquanto a concorrência reduz sua rede.
Desde que assumiu, Bolsonaro ameaça com a abertura da ‘caixa preta’ do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o que nunca aconteceu. No mês passado, ele admitiu que não foram encontradas irregularidades na instituição a despeito dos milhões de reais gastos na investigação.
Procurada, a Caixa não comentou. A PwC Brasil não irá se posicionar, seguindo o protocolo de não comentar casos específicos sobre empresas ou que incluam clientes.
Fonte: Estadão – Por Aline Bronzati