Mercado vê avanço maior do PIB e melhora nas contas do governo; no entanto, relatórios ainda destacam ‘cautela’ com indicadores no médio prazo, como a evolução da inflação e da dívida pública (Por Adriana Fernandes)
Na esteira do aumento da vacinação, os bancos têm melhorado suas previsões para a economia brasileira. Mas a cautela nas explicações permanece, diante dos riscos que ainda rondam o País na porta de saída da crise da pandemia, como a inflação mais alta.
Em relatório com a mensagem “melhora no curto prazo e cautela no médio prazo”, o Santander subiu de 3,6% para 5,1% a previsão para o PIB no ano, citando os efeitos positivos da alta de preços das commodities e as expectativas mais favoráveis para reabertura da economia no segundo semestre com a vacinação. Para 2022, a previsão aumentou de 1,5% para 2%.
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Bom andamento da vacinação ajuda, mas inflação e evolução da dívida pública ainda geram dúvidas.
“Mais do que se afiançar em ganhos de curto prazo, importante entender que a pandemia trouxe choques sobre o ambiente econômico que tendem a se dissipar”, alerta no relatório a economista-chefe do Santander, Ana Paula Vescovi.
Entre esses choques, ela cita aqueles provocados pela forte alta das commodities, a ruptura de cadeias produtivas pela pandemia, as mudanças no padrão de consumo e o efeito da inflação que ajudou a aumentar a arrecadação.
Com a alta mais persistente da inflação, o Santander também “melhorou” as projeções fiscais. No texto do relatório, o banco colocou aspas na palavra melhoria justamente para sinalizar que esse efeito positivo tem como contraponto a pressão por mais gastos.
A projeção de déficit primário das contas do governo para 2021 caiu de 3% para 1,9% do PIB. A estimativa de dívida bruta também acompanhou o movimento, com queda de 85% para 82,2% em 2021, chegando a 93,7% em 2027 – em vez dos cerca de 105% considerados em 2019, no pior momento para as projeções das contas públicas.
“Se, de um lado, saímos do risco latente de trajetória explosiva da dívida, de outro ainda não asseguramos uma consolidação fiscal segura, mas ganhamos mais tempo para alcançá-la”, diz o relatório, chamando atenção para o fato de que permanecem os riscos de alta para a trajetória da dívida pública no médio e no longo prazos. A arrecadação mais alta traz o risco de aumento dos gastos por governadores e prefeitos e o governo federal.
O Bradesco também divulgou novas projeções, destacando que o Banco Central está mais preocupado com a inflação. O banco diz que os dados seguem registrando recuperação da atividade econômica, em especial com o avanço do consumo, tanto de bens quanto de serviços. A projeção para o crescimento de 2021 subiu de 4,8% para 5,2% , ligeiramente acima da estimativa do Santander.
A indústria ainda encontra restrições por falta de insumos e pode limitar um avanço mais forte da atividade econômica, já que a recomposição de estoques pode ser mais longa. “Alguma cautela ao cenário de reabertura ampla e rápida da economia, mas, por ora, não há indicativo de que as vacinas não sejam eficazes”, diz o relatório do Bradesco.
Os resultados de atividade durante a segunda onda da pandemia no País já mostraram que houve adaptação às medidas de restrição, o que tende a limitar os efeitos econômicos em caso de elevação do número de casos por conta de novas variantes. Por outro lado, o risco hídrico segue no radar. Não é majoritária a probabilidade de racionamento de energia, mas há necessidade de manutenção de usinas térmicas ligadas, destaca.
A XP Investimentos tem estimativas próximas para a alta do PIB brasileiro: 5,2% em 2021 e 2,0% em 2022. A estimativa para o IPCA é de 6,4% em 2021 e para a dívida pública, de 82,2%, em linha com Santander e Bradesco. Na última pesquisa Focus do BC (com uma centena de instituições financeiras), a expectativa para a economia ainda está mais baixa, em 5,05%. Há quatro semanas, a estimativa era de 3,96%.
Fonte: Estadão