Banco disse que cessão da carteira ocorreu após o processo tradicional de concorrência.
Carteira negociada pelo banco público soma R$ 2,9 bilhões em dívidas e foi comprada por R$ 371 milhões; banco disse que venda foi feita para a empresa que fez a maior oferta (Por Adriana Fernandes)
A Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (ANABB) pediu ao Tribunal de Contas da União (TCU) que investigue a operação de venda da carteira de crédito de R$ 2,9 bilhões para o BTG Pactual.
O Banco do Brasil está sendo criticado por partidos políticos e sindicatos por supostamente vender barato demais a carteira de crédito. Ela foi vendida por R$ 371 milhões.
A operação foi anunciada no início do mês, sob a gestão do presidente Rubem Novaes, que entregou na sexta-feira o pedido de demissão ao ministro da Economia, Paulo Guedes. A expectativa é que Novaes permaneça no cargo somente até o próximo dia seis, depois do anúncio do resultado do banco no primeiro semestre.
Em ofício ao TCU, o presidente da ANABB pediu ao Tribunal que se “debruce” sobre a legalidade dos negócios efetuados e verifique por meio de auditoria eventuais prejuízos aos acionistas. A entidade quer que o tribunal de contas avalie ainda se houve ampla concorrência no processo de venda. A ANABB quer saber por que o BB não fez um leilão.
“O leilão é uma modalidade que permite ao BB ceder parte de seus ativos sem questionamentos a respeito de eventuais direcionamentos – até porque a empresa que adquiriu os créditos tem vínculos históricos com o Ministro da Economia. Por que este caminho mais adequado não foi obedecido?”, questionou o presidente da ANABB, Reinaldo Fujimoto, na carta ao TCU.
Um dia depois do envio do ofício ao TCU, o BB divulgou hoje comunicado ao mercado dando mais detalhes da operação. Segundo o banco, a cessão da carteira ocorreu após processo de concorrência que contou com a participação de quatro empresas especializadas neste mercado. “O escolhido foi aquele que apresentou a maior oferta de pagamento à vista e o maior percentual do rateio de prêmios futuros”, diz o comunicado.
De acordo com o BB, a empresa de avaliação de balanços Pricewaterhouse Coopers fez o acompanhamento da precificação da operação e da avaliação de riscos. Os créditos cedidos referem-se a operações que estavam inadimplentes, em média, há mais de seis anos. Do total, 98% já estavam lançados em prejuízo e os 2% restantes contavam com provisões (recursos que o banco guarda para eventual calote).
O BB informou que se trata de um portfólio de operações ajuizadas, com processos judiciais iniciados há até 15 anos.A cessão da carteira terá impacto positivo no resultado financeiro do Banco do Brasil, calculado em R$ 371 milhões.
“A manifestação do BB dá algumas explicações, mas como enviamos ofício ao TCU entendemos que o órgão de controle terá todas as informações – e números detalhados – para uma apreciação mais abrangente da operação”, disse ao Estadão o presidente da ANABB.
Fonte: Estadão