O início da 271ª Festa de Sant’Ana, padroeira de Caicó, mostra importância do turismo religioso
Teve início na última quinta-feira (18), com a realização da tradicional procissão de abertura, que percorreu as principais avenidas da cidade seridoense, missa campal em frente à Catedral de Sant’Ana, acompanhada por milhares de fiéis, demonstrando o desenvolvimento do turismo religioso no Rio Grande do Norte. E mostra que, ao longo dos anos, a fé tem estimulado o desenvolvimento desse segmento no RN, mas que para ele crescer ainda mais, é preciso uma soma de esforços do estado, Prefeituras e população.
Diante desse fato no dia 25 de junho, o tema foi pauta de audiência pública de iniciativa do deputado estadual Tomba Farias, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte. Uma das questões mais abordadas na ocasião, que contou com a participação de representantes do trade turístico potiguar, além de prefeitos e secretários de turismo de municípios vocacionados com potencialidade no turismo religioso, foi o investimento em infraestrutura.
A secretária de Turismo do Estado do Rio Grande do Norte, Ana Maria Costa, disse que o desenvolvimento do turismo passa pelo envolvimento de todos os segmentos da sociedade. “Apenas no feriadão da Semana Santa, o segmento do turismo religioso movimentou 2,7 bilhões de reais no Brasil. O RN possui vários atrativos e potenciais para turismo religioso. Nós montamos um roteiro do circuito da fé, de 7 dias, que abrange 11 municípios. Mas realmente existe uma grande questão em relação a interiorização do turismo, a infraestrutura. Infelizmente, no RN são poucos os municípios que têm vocação para o turismo religioso e que possui o mínimo de estrutura. O estado tem 5 polos turísticos que contemplam 75 municípios. Cada polo, mesmo que indiretamente, está ligado ao turismo religioso. A gente tem que entender também que os municípios e a população têm que se envolver nesse processo. Não adianta a secretária de turismo querer fazer esse movimento se toda a população não tiver envolvida, a igreja não estiver envolvida. As vezes, o município não tem nem uma pousada para hospedar o turista que chega. Precisamos o mínimo de infraestrutura para atrai os turistas para esses municípios”, indicou.
Falta de infraestrutura é maior gargalo para o turismo religioso
Para a analista de Políticas Públicas do Sebrae/RN, Cátia Lopes, muitos desafios precisam ser superados. “A gente tem uma preocupação muito grande de não cair no ciclo da decadência. Não há hospedagem porque não há fluxo? O fluxo não vai porque não tem investimento? É hora de alguém dar o primeiro passo e romper essa inércia. Precisamos fazer um turismo inteligente. A fé é indutora e a participação da igreja é importantíssima, mas vejo que temos muito trabalho para fazer e temos que sentar e pensar quais são os atrativos que temos, porque esse é um desenvolvimento territorial, não apenas de cada município. Esse conjunto é que forma o grande roteiro para que você faça com que a pessoa saia de casa motivada pela sua fé, mas possa experimentar outras coisas além dessa fé. Num raio de 80 km, temos condições de movimentar esse turismo e o grande vendedor desse turismo é a Igreja, por isso precisamos nos unir a ela.”
O arcebispo de Natal, dom Jaime Vieira, destaca a importância do turismo religioso. “Diante de tudo o que eu escutei na audiência do dia 25 de junho, vejo que o turismo religioso tem sido um viés econômico de incentivo a emprego, renda, desenvolvimento urbano, regional e isso é muito importante. A infraestrutura básica é importante, certamente os municípios e as paróquias não têm condições sozinhas de arcar com isso. Mas também é muito importante que nós possamos dar toda a assistência para que as pessoas, em qualquer hora que possam visitar aquele local, sejam devidamente recepcionadas”, disse o religioso.
RN possui grande potencial para o turismo religioso
O que não faltam são eventos e monumentos religiosos para impulsionar ainda mais o turismo religioso do Rio Grande do Norte. Da capital, Natal, aos municípios mais distantes do interior do RN, são muitos os atrativos religiosos. Festejos de Festa de Sant’Ana, Santa Luzia, ou visitas aos monumentos dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu e de Santa Rita de Cássia, a pontos como o monte do Galo, e ao Santuário do Lima são alguns desses atrativos.
No município de Santa Cruz, região Trairi do estado, o destaque é para a maior estátua católica do mundo. O monumento de Santa Rita de Cássia pode ser visto a 5 km de distância da cidade e atrai milhares de visitantes anualmente. O padre da cidade, Vicente Fernandes, explica que o monumento de Santa Rita deu visibilidade ao turismo religioso do estado. “Tem turistas que vêm pela visita ao lugar e outros que visitam pela fé”, relata o pároco.
Para a secretária de turismo do RN, Ana Maria Costa, é preciso que o setor se una para divulgar também outros locais de turismo religioso no interior do estado. São importantes não só os Mártires de Cunhaú e Uruaçu e a estátua de Santa Rita como também o Santuário do Lima, em Patu; o Monte do Galo, em Carnaúba dos Dantas; a Igreja de Nossa Senhora das Graças, em Florânia. E tem também, além dos monumentos, as festas religiosas de Sant´Ana, em Currais Novos e Caicó, e a de Santa Luzia, em Mossoró”, destaca a secretária
O prefeito de Patu, Rivelino Câmara, reiterou a cobrança ao poder público de infraestrutura para viabilizar o turismo no interior. “O Santuário do Lima é um santuário construído em cima das serras e que vem se desenvolvendo com grandes dificuldades pela falta de estrutura. Não há como um empresário investir numa cidade sem infraestrutura e quem dá a infraestrutura é o poder público. Mas, em uma cidade com cerca de 13 mil habitantes, o município sozinho não tem condições de, em cima da serra, pavimentar, drenar e dar a estrutura para que o empresário vá até lá construir sua pousada”, explicou.
Festa de Sant’Ana em Caicó é uma das maiores do RN
Teve início na quinta-feira (18) a 271ª Festa de Sant’Ana, padroeira de Caicó.
A exemplo de anos anteriores, um dos maiores eventos religiosos do interior do RN contou com a participação de milhares de pessoas que foram até a cidade participar da tradicional procissão de abertura percorrendo as principais avenidas da cidade seridoense.
Na abertura também foi realizada logo após a procissão uma missa campal ocorreu em frente à Catedral de Sant’Ana.
Considerado um dos maiores eventos sócio-religioso do estado, é a primeira manifestação do estado a entrar para a lista de “Patrimônio Imaterial do Brasil”, vinculado ao Iphan, órgão do Ministério da Cultura.
A Festa de Sant’Ana é uma típica quermesse, porém, na cidade de Caicó, os festejos tomaram uma dimensão maior, atraindo grande número de turistas; seja devido à grande quantidade de eventos paralelos, ou pela coincidência da festa se realizar na temporada de férias escolares.
Apesar de seu caráter eminentemente religioso, a Festa de Sant’Ana aglutina elementos diversos da cultura sertaneja, incluindo a indumentária, a culinária, o artesanato, e as mais diversas formas de expressão. Além de ainda reforçar a existência de lugares sagrados, como o mítico Poço de Sant’Ana.
A festa possui um grande simbolismo para a população de Caicó, uma vez que, segundo a lenda, a fundação da cidade se deve a uma promessa a Sant’Ana que fez que um sertanejo encontrasse uma fonte de água durante uma forte seca. Essa fonte se mantém jorrando água até os dias atuais, que é o Poço de Santana. Diante disso, o sertanejo conseguiu salvar a vida de sua família e todo o seu rebanho de gado. Outro causa para a grande devoção da população caicoense seria o fato de Sant’Ana ser a avó de Jesus, figura de grande importância nas famílias seridoenses.
Feirinha de Sant’Ana atrai centenas de visitantes
A Feirinha de Sant’Ana, realizada sempre na ultima quinta-feira do mês de julho, feriado municipal em homenagem à padroeira, é um dos destaques da festa da padroeira de Caicó. Nela, pode-se encontrar os pratos mais típicos da culinária e doçaria seridoense. A feirinha é o evento social mais significativo da Festa de Sant’Ana, é nela onde se aglutinam os elementos mais significativos da identidade seridoense, representados pela culinária, artesanato e manifestações artísticas, assim como pela hospitalidade bastante peculiar, que se faz questão de ser expressa pelas pessoas de Caicó.
De acordo com a organização, as barraquinhas espalhadas pelo largo da catedral vendem comidas e bebidas para os visitantes. O que não falta por lá é o tradicional bode, paçoca de carne de sol, buchada e arroz de leite, que estão sempre estão entre as iguarias que os caicoenses e visitantes aproveitam para saborear.
Fonte: Jornal de Fato