Todas as formas de violência contra a mulher aumentaram no último ano, após redução de verbas de combate e acolhimento durante o governo Bolsonaro
Por Tiago Pereira
Quase três em cada 10 mulheres (28,9%) relataram ocorrência de algum tipo de violência ou agressão no ano passado na quarta edição da pesquisa Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil. O levantamento divulgado nesta quinta-feira (2) é do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e do Datafolha. Os tipos de violência vão desde xingamentos até tiros e esfaqueamento, passando por perseguição e espancamento.
É o pior resultado da série histórica. Em relação à pesquisa anterior, de 2021, aumentou em 4,5 pontos percentuais o total de mulheres que relataram agressões no ano passado. De acordo com o levantamento, todas as formas de violência contra a mulher pioraram no último ano. A pesquisa ouviu cerca de mil mulheres acima de 16 anos em todas as regiões do país, entre 9 e 13 de janeiro.
Ofensas verbais, que incluem insultos, humilhações e xingamentos foi o tipo de violência mais comum, citado por 23,1% das entrevistadas. Na sequência, aparecem perseguição ou amedrontamento (13,5%) e ameaças (12,4%). Agressão física, como chutes, socos e empurrões somam 11,6% e ofensas sexuais, 9%. Outras 5% foram vítimas de ameaça com armas de fogo ou faca.
Como causa principal desse aumento recente, o relatório da pesquisa aponta o “desfinanciamento” das políticas de enfrentamento à violência contra a mulher por parte do governo Bolsonaro. Também cita os impactos da pandemia nos serviços de acolhimento às vítimas. Além disso, destaca o crescimento do “ultraconservadorismo”, que elegeu o combate à igualdade de gênero como uma das suas principais bandeiras.
Maioria das vítimas não procura ajuda
Outro dado alarmante é que 45% nada fizeram diante dos casos graves de agressão. Entre as que procuraram ajuda, recorreram principalmente à família (17,3%) e amigos (15,6%). Por outro lado, outras 14% denunciaram os agressores em delegacia da mulher e 8,5% denunciaram em delegacia comum. Apenas 1,6% ligaram para a Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180), enquanto outras 4,8%, para a Polícia Militar. Igrejas também aparecem como ponto de apoio para 3% das mulheres agredidas.
Ao justificar não terem recorrido à polícia nos casos de agressão grave, 38% disseram que “resolveram sozinhas”. Isso por quê:
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21,3% disseram não acreditar que a polícia pudessem resolver
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10,9% disseram que não queriam envolver a autoridade policial
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14,4% alegaram falta de provas para denunciar o agressor
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12,8% relataram medo de represálias.
Inimigo íntimo
Além disso, a pesquisa também aponta que 33,4% das mulheres brasileiras experimentou violência física ou sexual provocada por parceiros ou ex-parceiros ao longo da vida. Mais do que a média mundial, de 27%.
Esses índice, quando projetado para o universo da população feminina, indica que 27,6 milhões de mulheres sofreram alguma forma de violência provocada por parceiro íntimo ao longo da vida no Brasil.
O relatório revela que “24,5% afirmaram ter sofrido agressões físicas como tapa, batida e chute, e 21,1% foram forçadas a manter relações sexuais contra sua vontade”. E acrescenta: “Se expandirmos os resultados para as mulheres que afirmaram ter sofrido violência psicológica, como humilhações, xingamentos e insultos de forma reiterada, o percentual de mulheres que sofreu alguma forma de violência por parceiro íntimo chega a 43%”.
Entre as mulheres pretas, sobe para 48% aquelas que declararam ter sofrido algum tipo de agressão ao longo da vida. Para mulheres pardas, esse índice é um pouco menor (43,8%), enquanto 36,9% das mulheres brancas disseram que foram vítimas de agressões. De acordo com as entrevistas, a violência atinge principalmente mulheres jovens de 25 a 34 anos (48,9%), com ensino fundamental (49%) e que têm filhos 44,4%.
Assédio sexual
Assim como as outras formas de violência contra a mulher, o percepção de assédio sexual também foi recorde no país, em 2022. Assim, 46,7% disseram que sofreram algum tipo de assédio. O tipo mais comum, relatado por 41%, inclui cantadas e comentários desrespeitosos enquanto elas andavam na rua. Por outro lado, outras 18,6% dizem que foram vítimas desse tipo de comportamento no ambiente de trabalho. Além disso, 12,8% relataram que sofreram assédio físico no transporte público.
Outras 11,2% contaram que foram abordadas de maneira agressiva, com toques no corpo, durante festas e baladas, enquanto 8% disseram que tentaram se aproveitar enquanto estavam alcoolizadas. Ademais, 6% das mulheres disseram que foram agarradas ou beijadas a força, em qualquer situação.
Fonte: Rede Brasil Atual