Agência acredita que a aceleração dos canais digitais trazida pela pandemia, aliada à crescente atividade das startups financeiras, forçará os bancos a manterem investimentos pesados em tecnologia (Por Álvaro Campos, Valor SP)
As fintechs são uma ameaça apenas “limitada” para os bancos tradicionais da América Latina no curto prazo, segundo análise da Fitch. Ainda assim, a agência de rating aponta que a pandemia acelerou drasticamente o ritmo da digitalização na maioria dos países, o que beneficia a expansão desses novos entrantes.
O relatório afirma que, antes da pandemia, a proliferação de startups durante 2016-2019 se intensificou e o número de participantes do mercado cresceu a um ritmo rápido de dois dígitos. De acordo com uma pesquisa da Kore Fusion, a América Latina tem 1.075 fintechs, sendo que Brasil e México concentram 69% desse total.
“Após a pandemia, a Fitch acredita que a dinâmica do mercado no curto prazo levará a uma competição mais acirrada por produtos digitais e promoverá joint-ventures ou aquisições, dadas as reduzidas fontes de financiamento e a aversão ao risco dos investidores”.
A Fitch aponta que os modelos de negócios das fintechs incluem uma ampla gama de serviços, dos quais os mais dinâmicos na região são pagamentos digitais, remessas e empréstimos. Outros serviços incluem crowdfunding, bancos digitais, gerenciamento de finanças pessoais, plataformas B2C e negociação de criptomoedas. “Outras iniciativas, como o open banking no Brasil e no México, estimularão mais inovação nos setores de fintech e bancos, com novos produtos e serviços, acelerando a transformação digital de bancos tradicionais e outros participantes não bancários”.
A agência lembra que a transformação digital não é um conceito novo para os bancos tradicionais, mas a aceleração dos canais digitais trazida pela pandemia, aliada à crescente atividade das fintechs, forçará os bancos a manterem investimentos pesados em tecnologia. “Esses investimentos serão fundamentais para a defesa de suas franquias e modelos de negócios”.
A Fitch acredita que o mercado de fintechs tem potencial de crescimento considerável, devido à baixa inclusão financeira e digitalização na região, o que poderia ser favorecido pelo crescente acesso da população de renda média a dispositivos móveis e serviços de internet. No entanto, a agência aponta que um aspecto fundamental para o crescimento do setor é o acesso a financiamentos, uma vez que a maioria das startups e fintechs não acessou os mercados de capitais nem recebeu crédito de bancos.
“Na maioria dos casos, os anos iniciais de operação são financiados por meio de aportes de capital, contribuições de amigos e familiares, investidores-anjo e, em menor medida, recursos de fundos de venture capital ou fundos hedge”.
A Fitch afirma ainda que a regulamentação da fintechs diverge entre os diferentes países da região. Brasil e México são os mais avançados nesse quesito, embora o México seja o único país com uma lei específica em vigor. “A Fitch acredita que uma estrutura regulatória e legal abrangente em cada um dos países pode levar a operações de fintechs mais sustentáveis na América Latina a longo prazo”.
Fonte: Valor Econômico