A elevada violência contra a comunidade trans mostra que todos devem combater qualquer forma de preconceito no Brasil
Em 31 de março é celebrado o Dia Internacional da Visibilidade Trans. Conforme dados do Dossiê Assassinatos e Violência Contra Travestis e Transexuais Brasileiras em 2021, publicado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 123,8 pessoas trans foram assassinadas no país, em média, de 2008 a 2021. Nos últimos três anos, foram 124, 175 e 140 vítimas, respectivamente.
Com esses números alarmantes, a data se torna importante entre nós para iniciativas de debate e iniciativas sobre questões relacionadas à comunidade LGBTQIA+. O ano de 2021 foi o 13º seguido em que o Brasil vem se mantendo no topo do ranking como o mais violento contra pessoas trans em todo o mundo.
Exclusão social
O perfil das vítimas mostra também outro lado sombrio do preconceito na sociedade brasileira. O estudo da Antra, com base em 100 das pessoas assassinadas em 2021, registra que 81% delas se identificavam como pretas ou pardas. Com relação à idade, 53% tinham entre 18 e 29 anos, e 28%, entre 30 e 39 anos. No Brasil, a expectativa de vida de uma pessoa trans é de apenas 40 anos, pouco mais da metade dos 76,8 anos para a média da população.
As principais vítimas foram profissionais do sexo, 78% das pessoas identificadas na pesquisa. Conforme o Dossiê, elas foram “empurradas para a prostituição compulsoriamente pela falta de oportunidades, onde muitas se encontram em alta vulnerabilidade social e expostas aos maiores índices de violência, a toda a sorte de agressões físicas e psicológicas”. Os estados com maior número de ocorrências do crime foram São Paulo (com 25), Bahia (13), Rio de Janeiro (12) e Ceará e Pernambuco (11).
Empregabilidade
Para Adilson Barros, membro da Diretoria Executiva da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e militante LGBTQIA+, “diante desse quadro assustador, é preciso investir cada vez mais na política de geração de emprego e renda para as pessoas trans, pois a visibilidade, alardeada por empresas e bancos, vem sendo falseada apenas em busca de certificações, e concretamente não enxergarmos muito em torno da empregabilidade”.
Conforme alerta Adilson, “esse compromisso precisa ser firmado para ajudar mais no combate à violência e para reduzir o número de mortes”. O dirigente da Contraf-CUT chama o meio empresarial para de fato abraçar a causa: “Ajude pessoas trans a se inserir no mercado de trabalho e crie projetos de capacitação, contrate profissionais e empresas que possuem pessoas trans no seu quadro de funcionários e jamais as trate pelo nome de batismo quando já tiverem feito sua transição ou mudança de sexo”.
Estado lava as mãos
A ausência do Estado para combater crimes contra pessoas trans é também denunciada no Dossiê. Entre os grandes problemas apontados estão a falta de acolhimento de adolescentes trans, muitas vezes rejeitados pelas famílias e sem espaço nas escolas, o silêncio dos parlamentares e a inércia de entidades estatais para o combate à transfobia.
Conforme adverte Adilson, “os sindicatos e demais instituições precisam ter mais responsabilidade em torno da luta das pessoas LGBTQIA+, pois hoje as políticas voltadas para eles e elas estão reduzidas por iniciativa de um governo que aposta no discurso de ódio, e não na importância de inserir as pessoas trans no mercado de trabalho e em seu reconhecimento como cidadãos. Neste ano eleitoral, faremos o possível para eleger candidaturas compromissadas com estas pautas”.
Acesse os relatórios anuais da Antra sobre assassinatos de pessoas trans no Brasil.
Conheça publicações da Transgender Europe, várias com versão em português.
Fonte: Contraf