Taxa de desemprego de pretos, pardos e indígenas era de 17,27%, contra 11,98% de brancos e amarelos em 2020.
A taxa de desocupação entre brasileiros pretos, pardos e indígenas tem aumentado em relação à de brancos e amarelos, o que provoca mais concentração de renda e amplia a desigualdade social e racial no país. As conclusões estão em relatório do Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa (Gemaa) da Uerj, antecipado ao GLOBO, que analisou a desigualdade racial no mercado de trabalho e renda, além de educação, em um período de 35 anos.
Em 1987, quando os pesquisadores começaram a acompanhar os dados, a taxa de desemprego de negros e indígenas era de 3,91%, enquanto a de brancos e amarelos era de 3,38%. A taxa de desocupação geral foi crescendo, com desvantagem para os pretos, mas com diferenças que não chegavam a três pontos percentuais.
A partir de 2015, esse patamar foi superado, e a taxa de desemprego de pretos era de 10,51%, enquanto a de brancos era de 7,31%. A diferença alcançou o ápice em 2020, ano da pandemia — o desemprego de negros chegou a 17,27%, contra 11,98% dos brancos. Em 2021, a diferença ficou em 4,23 pontos percentuais.
Nesse período entre 1987 e 2022, mais brasileiros se identificaram como pretos, pardos e indígenas, e houve redução na desigualdade racial na educação formal. Mas isso não resultou em diminuição das diferenças entre brancos e negros no mercado de trabalho.
“Podemos observar a manutenção de desigualdades duráveis que mantêm brancos e amarelos com melhores níveis de escolaridade, de trabalho e renda, se comparados ao grupo formado por pretos, pardos e indígenas. É importante notar que, apesar da melhoria no acesso à educação, pretos, pardos e indígenas ainda sofrem com altas taxas de desocupação. Quanto à renda, a desigualdade é ainda mais acentuada”, diz o relatório.
Trabalho precário
Segundo o estudo, desde 2010, percebe-se um aumento maior de brancos e amarelos migrando para o trabalho por conta própria, e a permanência de pretos, pardos e indígenas no mercado informal.
“Ainda que essas transições costumem redundar em algum grau de precarização generalizada dos vínculos formais de emprego, a informalidade continua relacionada à vulnerabilidade maior do trabalhador do que os vínculos autônomos hoje em crescimento”, aponta o documento.
As diferenças na ocupação também acentuam a desigualdade racial, ao se observar os rendimentos obtidos pelos grupos. Entre 1987 e 2002, brancos e amarelos recebiam o dobro de pretos, pardos e indígenas. Esse indicador foi caindo até 2011, quando voltou a crescer.
“A depreciação geral das rendas do trabalho em 2020 levou a uma pequena redução dessa desigualdade racial, mas ainda é cedo para dizer se isso demarca uma tendência”, diz o texto.
O mesmo movimento foi observado em relação à renda domiciliar per capita, que considera o volume total de recursos recebido pela família dividido pelo número de membros.
A economista Thais Custódio, de 33 anos, vive uma situação distinta no mercado de trabalho, que é exceção. As equipes com as quais atua são compostas, na maioria, por negros, e a remuneração segue a média de mercado. Mas não foi sempre assim.
— Eu já deixei de ser contratada por causa do cabelo que usava. É muito perverso, porque as pessoas já te olham torto sem você abrir a boca, sem você dizer quais são as suas expertises, qualidades, o que está disposto a fazer para contribuir com aquele trabalho — conta.
Mais instruídos
Os pesquisadores constataram que a população preta, parda e indígena teve avanços na educação, mas isso não resultou em melhorias no mercado de trabalho até o momento.
— O que a gente vê são melhoras, que tem de destacar, sobretudo nos índices educacionais, mas isso não se reflete no mercado de trabalho. Quando negros e brancos se equalizam em processo de alfabetização, isso ocorre em um momento em que a alfabetização deixa de ser relevante para ocupar espaços no mercado — afirma o sociólogo Luiz Augusto, coordenador do Gemaa.
Fonte: O Globo